terça-feira, 13 de outubro de 2015

Eu escrevi um poeminha triste - Mário Quintana

                                                                                                                                                                                        Foto: Vilma Gama


"Eu escrevi um poeminha triste"


"Eu escrevi um poema triste

E belo, apesar da sua tristeza.

Não vem de ti essa tristeza

Mas das mudanças do Tempo,

Que ora nos traz esperanças

Ora nos traz incerteza...

Nem importa, ao velho Tempo,

Que sejas fiel ou infiel...

Eu fico, junto à correnteza,

Olhando as horas tão breves...

E das cartas que me escreves

Faço barcos de papel!"



Mário Quintana

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Celebração de 1 ano do blog. Viva! Os geniais Leminski e Manoel de Barros falam sobre criança


Victor Luís - janeiro de 2015 - Farol de Santa Marta - SC                                                                                      Foto: Vilma Gama


Olá a todos os leitores do blog Dizeres Poéticos, há um tempo não nos encontramos! 
E por falar em tempo, no último dia 5 de outubro a página comemorou 1 ano, que significa a infância de sua existência. 
E para comemorar a infância, os geniais Paulo Leminski (poema) e Manoel de Barros (videopoema - Histórias da unha do dedão do pé do fim do mundo):  


"Nesta vida,
pode-se aprender três coisas de uma criança:
estar sempre alegre,
nunca ficar inativo
e chorar com força por tudo o que se quer."

Paulo Leminski



terça-feira, 18 de agosto de 2015

Seiscentos e Sessenta e Seis - Mário Quintana

Prainha - Farol de Santa Marta - SC                                                                                                                        Foto: Américo Rodrigues

"Seiscentos e Sessenta e seis"



"A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são seis horas: há tempo...

Quando se vê, já é sexta-feira...

Quando se vê, passaram 60 anos...

Agora, é tarde demais para ser reprovado...

E se me dessem - um dia - outra oportunidade,

eu nem olhava o relógio

seguia sempre, sempre em frente...


E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas."







Mário Quintana

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

As mãos de meu pai - Mário Quintana

                                                                                                                                                                                      Foto: Vilma Gama

Há um tempo não publico nada por aqui. 
Há um tempo não muito distante meu pai deixou este planeta. 
Há uma semana e meia o blog completou 10 meses. 
E a roda viva do tempo não para.


"As mãos de meu pai"



"As tuas mãos tem grossas veias como cordas azuis

sobre um fundo de manchas já da cor da terra

- como são belas as tuas mãos

pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram da nobre 

cólera dos justos...

Porque há nas tuas mãos, meu velho pai, essa beleza que 

se chama simplesmente vida.

E, ao entardecer, quando elas repousam nos braços da tua 

cadeira predileta,

uma luz parece vir de dentro delas...

Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente, vieste 

alimentando na terrível solidão do mundo,

como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o 

vento?

Ah, como os fizeste arder, fulgir, com o milagre das tuas

mãos!

E é, ainda, a vida que transfigura as tuas mãos nodosas...

essa chama de vida - que transcende a própria vida...

e que os Anjos, um dia, chamarão de alma."



Mário Quintana


*Poema publicado originalmente no livro Esconderijo do Tempo, retirado de Poesia Completa - Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005, p. 491)

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Ah! Os relógios - Mário Quintana


Ontem, 30 de julho, se estivesse aqui pelo planeta, Mário Quintana completaria 109 anos.
Em homenagem ao adorável poeta o blog publica hoje os poemas “Ah! Os relógios” – “Relógio” – que tratam do tempo;  e ainda, “Sesta antiga”  - “Canção da garoa” – “Os arroios” – “Os Poemas” – que falam por si. 
Boa leitura! 
Viva Quintana!




"Ah! Os relógios"


"Amigos, não consultem os relógios

quando um dia eu me for de vossas vidas

em seus fúteis problemas tão perdidas

que até parecem mais uns necrológios...



Porque o tempo é um invenção da morte:

não o conhece a vida - a verdadeira -

em que basta um momento de poesia

para nos dar a eternidade inteira.



Inteira, sim, porque essa vida eterna

somente por si mesma é dividida:

não cabe, a cada qual, uma porção.



E os Anjos entreolham-se espantados

quando alguém - ao voltar a si da vida -

acaso lhes indaga que horas são..."


Gonzaguinha e Mário Quintana

Relógio - Mário Quintana




"Relógio"



"O mais feroz dos animais domésticos

é o relógio de parede:

conheço um que já devorou

três gerações da minha família."



Mário Quintana

Sesta antiga e Canção da garoa - Mário Quintana


  

"Sesta antiga"


"A ruazinha lagarteando ao sol.

O coreto de música deserto

Aumenta ainda mais o silêncio.

Nem um cachorro.

Este poeminho

É só o que acontece no mundo..."


Mário Quintana