quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Manoel de Barros - O Livro das Ignoranças, Mundo Pequeno e Autorretrato




Dizeres Poéticos apresenta hoje um sarau virtual. No vídeo abaixo poesia na voz poeta, confira...


"O rio que fazia uma volta atrás da nossa casa

era a imagem de um vidro mole que fazia  uma

volta atrás de casa.

Passou um homem depois e disse: Essa volta



que o rio faz por trás de sua casa se chama

enseada.

Não era mais a imagem de uma cobra de vidro

que fazia uma volta atrás de casa.

Era uma enseada.

Acho que o nome empobreceu a imagem."


_._._.



"Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas

leituras não era a beleza das frases, mas a doença

delas.

Comuniquei ao padre Ezequiel, um meu preceptor, 

esse gosto esquisito.

Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.

- Gostar da fazer defeitos na frase é muito saudável,

o padre me disse.

Ele fez um limpamento em meus receios.

O padre falou ainda: Manoel, isso não é doença,

pode muito que você carregue para o resto da vida

um certo gosto por nadas...

E se riu.

Você não é de bugre? - ele continuou.

Que sim, eu respondi.

Veja que bugre só pega por desvios, não anda  em

estradas

Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas

e os ariticuns maduros.

Há que apenas saber errar bem o seu idioma.

Esse padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de

agramática."


quarta-feira, 14 de outubro de 2015

A espantosa realidade das cousas - Alberto Caeiro

São Paulo - dezembro de 2014                                                                                                                                   Foto: Vilma Gama

"A espantosa realidade das cousas"





"A espantosa realidade das cousas

É a minha descoberta de todos os dias.

Cada cousa é o que é,

E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,

E quanto isso me basta.



Basta existir para se ser completo.



Tenho escrito bastantes poemas.

Hei de escrever muitos. Naturalmente.



Cada poema meu diz isto,

E todos os meus poemas são diferentes,

Porque cada cousa que há é uma maneira de dizer isto.



Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.

Não me ponho a pensar se ela sente.

Não me perco a chamar-lhe minha irmã.

Mas gosto dela por ela ser uma pedra.

Gosto dela porque ela não sente nada.

Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.



Outras vezes oiço passar o vento,

E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter 

nascido.

Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;

Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem 

estorvo,

Nem ideia de outras pessoas a ouvir-me pensar;

Porque o penso sem pensamentos

Porque o digo como as minhas palavras o dizem.



Uma vez chamaram-me poeta materialista,

E eu admirei-me, porque não julgava

Que se me pudesse chamar qualquer cousa.

Eu nem sequer sou poeta: vejo,

Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho;

O valor está ali, nos meus versos,

Tudo isso é absolutamente independente da minha 

vontade."



Alberto Caeiro

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Eu escrevi um poeminha triste - Mário Quintana

                                                                                                                                                                                        Foto: Vilma Gama


"Eu escrevi um poeminha triste"


"Eu escrevi um poema triste

E belo, apesar da sua tristeza.

Não vem de ti essa tristeza

Mas das mudanças do Tempo,

Que ora nos traz esperanças

Ora nos traz incerteza...

Nem importa, ao velho Tempo,

Que sejas fiel ou infiel...

Eu fico, junto à correnteza,

Olhando as horas tão breves...

E das cartas que me escreves

Faço barcos de papel!"



Mário Quintana

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Celebração de 1 ano do blog. Viva! Os geniais Leminski e Manoel de Barros falam sobre criança


Victor Luís - janeiro de 2015 - Farol de Santa Marta - SC                                                                                      Foto: Vilma Gama


Olá a todos os leitores do blog Dizeres Poéticos, há um tempo não nos encontramos! 
E por falar em tempo, no último dia 5 de outubro a página comemorou 1 ano, que significa a infância de sua existência. 
E para comemorar a infância, os geniais Paulo Leminski (poema) e Manoel de Barros (videopoema - Histórias da unha do dedão do pé do fim do mundo):  


"Nesta vida,
pode-se aprender três coisas de uma criança:
estar sempre alegre,
nunca ficar inativo
e chorar com força por tudo o que se quer."

Paulo Leminski