Foto: Vilma Gama |
Nessa poesia Manoel de Barros debruça-se sobre a palavra, desvenda seus mistérios. Caminhos encantados pelo poeta em seus 74 anos de trabalho.
"Agora só espero a despalavra: a palavra nascida
para o canto - desde os pássaros.
A palavra sem pronúncia, ágrafa.
Quero o som que ainda não deu liga.
Quero o som gotejante das violas de cocho.¹
A palavra que tenha um aroma ainda cego.
Até antes do murmúrio.
Que fosse nem um risco de voz.
Que só mostrasse a cintilância dos escuros.
A palavra incapaz de ocupar o lugar de uma
imagem.
O antesmente verbal: a despalavra mesmo."
¹Estão registrados nas anotações antropológicas do mestre Roquete Pinto os
sons gotejantes da viola de cocho. A expressão é conhecida entre os índios
guatós da beira do Cracará. A viola de cocho é levianinha e só tem quatro
cordas feitas de tripa de bugio. É com ela que se acompanha o cururu,
dança de origem indígena, disseminada entre os ribeirinhos do Cuiabá e
do rio Paraguaio.
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