domingo, 19 de abril de 2015

Eduardo Galeano - um olho no microscópio e outro no telescópio


Eduardo Galeano, escritor uruguaio, deixou o planeta na última segunda-feira (13), aos 74 anos. 
Celebremos a sua presença nessas mais de sete décadas em que esteve por aqui.
Abaixo o vídeo da entrevista concedida por Galeano a Eric Nepomuceno no programa Sangue Latino. 
Ele fala, encantadoramente, sobre inúmeros temas. 
Destaquei o que ele disse sobre América Latina, crianças, utopia e função da literatura e da arte.
Vale cada um dos 23 minutos e 23 segundos de duração.


"América Latina é a pátria das diversidades humanas.

O mundo é um tecido de encontros e desencontros, de 

perdas e ganhos e o melhor dos meus dias é aquele que 

ainda não vivi. Somos muitíssimo mais do que nos dizem

que somos."




Função da literatura e da arte.

Um jornalista disse a Galeano em uma entrevista: "Lendo 

seus livros sinto que você tem um olho no microscópio

e outro no telescópio".

"Achei uma boa definição das minhas intenções, do que eu 

gostaria de fazer escrevendo, de ser capaz de olhar o que 

não se olha, mas que merece ser olhado, as pequenas 

coisas da gente anônima, esse micro-mundo onde eu 

acredito que se alimenta de verdade a grandeza do 

universo e ao mesmo tempo ser capaz de contemplar o 

universo, através do buraco da fechadura, a partir das 

pequenas coisas ser capaz de olhar as grandes, os 

grandes mistérios da vida, o mistério da dor humana, mas 

também o mistério da persistência humana nesta mania, às 

vezes inexplicável de lutar por um mundo que seja a casa 

de todos e não a casa de pouquinhos e o inferno da 

maioria."




"A capacidade de beleza, a capacidade de 

formosura da gente mais simples, às vezes da gente mais 

singela, que tem uma insólita capacidade de formosura, 

que, às vezes, se manifesta em uma canção, em um grafite, 

em uma conversa qualquer, a que as crianças têm, o que 

acontece é que depois nós, adultos, nos ocupamos em 

transformá-las em nós mesmos e aí destruímos a vida 

delas." 
Victor Luís - Farol de Santa Marta - janeiro de 2015                                                                                              Foto: Vilma Gama

"As crianças são todas pagãs. Em uma de minhas 

caminhadas cruzei com uma menina que devia ter uns dois 

anos, que vinha brincando em sentido contrário e ela vinha 

cumprimentando a grama, a graminha, as plantinhas, 'bom 

dia graminha', dizia: 'bom dia graminha', ou seja, nessa 

idade, somos todos pagãos e, nessa idade, somos todos 

poetas, depois o mundo se ocupa de apequenar nossa 

alma, isso que chamamos crescimento, desenvolvimento."


Victor Luís curtindo o aniversário do papai em 18.1.15 - Farol de Santa Marta                                                 Foto: Vilma Gama


Numa boa - Victor Luís no Farol de Santa Marta - 14 de janeiro de 2015                                                                      Foto: Vilma Gama


"Me solto do abraço, saio na rua

no céu, já clareando, se desenha, finita, a lua

a lua tem duas noites de idade

eu, uma."

Eduardo Galeano


Dia 6 de janeiro de 2015 -Praia do Cardoso iluminada pelo pôr-do-sol                                                               Foto: Vilma Gama
Utopia

"Ainda existe espaço para a utopia no mundo de hoje?" 

perguntou Eric Nepomuceno.

"Sim, no sentido que deu a ela Fernando Birri, em uma 

frase que, injustamente, se atribui a mim.

Em um dos meus livros eu citei uma frase dele, dizendo 

que era dele e as pessoas atribuem ela a mim, 

pobre Fernando, mas é dele. Estávamos juntos em 

Cartagena das Índias, a belíssima cidade colombiana,

e fizemos uma palestra juntos na universidade e um 

estudante perguntou a ele: "Para que serve a utopia?"

E ele respondeu da melhor forma, eu nunca escutei uma 

resposta melhor. 

Ele disse que se fazia essa pergunta todos os dias, para 

que servia a utopia?

Se é que a utopia servia para alguma coisa..."


Quase pôr-do-sol no Farol de Santa Marta - janeiro de 2015                                                                               Foto: Vilma Gama
"Ele disse: 'vejam bem, a utopia está no horizonte

e se está no horizonte eu nunca vou alcançá-la

porque, se caminho dez passos, a utopia vai se distanciar 

dez passos, e se caminho vinte passos, a utopia vai se 

colocar vinte passos mais além, ou seja, que eu sei que 

jamais, nunca, vou alcançá-la.

Para que serve?

Para isso, para caminhar.'"


Confira a entrevista de Eduardo Galeano l Sangue Latino

https://youtu.be/47aFAIDierM

2 comentários:

  1. Perfeito!

    Poesia com um quê de sociologia! :D

    O"

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  2. É isso aí. O Galeano é um pensador. A questão indígena também está inserida em sua fala, por isso é também uma homenagem ao famigerado dia do Índio.
    O ponto central é a entrevista, a poesia, para mim, foi uma surpresa. Valeu Mário!

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