Manoel de Barros nos propõe a ausência de limites. Através das palavras somos livres para ser o que quisermos. Ele nos convida no poema:
Veio falou para a mãe: O gavião me desmoçou.
A mãe disse: Você vai parir uma árvore para
a gente comer goiaba nela.
E comeram goiaba.
Naquele tempo de dantes não havia limites
para ser.
Se a gente encostava em ser ave ganhava o poder de
alçar.
Se a gente falasse a partir de um córrego
a gente pegava murmúrios.
Não havia comportamento de estar.
Urubus conversavam sobre auroras.
Pessoas viravam árvore.
Pedras viravam rouxinóis.
Depois veio a ordem das coisas e as pedras
têm que rolar seu destino de pedra para o resto
Só as palavras não foram castigadas com
a ordem natural das coisas.
As palavras continuam com os seus deslimites."
Eu dou a mão ao poeta Manoel de Barros e sigo por sua Ilha Linguística para entrar em estado de árvore, em estado de palavra, pois, diz ele em sua poesia, "só quem assume estado de palavra pode enxergar as coisas sem feitio".
Essa poesia é arrebatadora!
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