segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Um pouco de poesia para pôr no dia

Caso observe atentamente a primavera, que chegou a pouco, já se manifesta nos jardins, nos parques e nos canteiros centrais das avenidas da cidade. Observar, segundo a definição do dicionário Aurélio, significa examinar miudamente, estudar, espiar, notar, ações que pouco praticamos ao longo do dia, em razão da velocidade exigida para vivermos e sobrevivermos nas grandes cidades como São Paulo. A velocidade nos desumaniza, nos coisifica. 
O poeta Manoel de Barros em seu livro "Retrato do artista quando coisa" propõe uma coisificação diferente. Ele se transforma e pode habitar árvores, animais, insetos, ou habitar o silêncio.



"Retrato do artista quando coisa: borboletas

Já trocam as árvores por mim.

Insetos me desempenham.

Já posso amar as moscas como a mim mesmo.

Os silêncios me praticam.

De tarde um dom de latas velhas se atraca

em meu olho

Mas eu tenho predomínio por lírios.

Plantas desejam a minha boca para crescer

por de cima.

Sou livre para o desfrute das aves.

Dou meiguice aos urubus.

Sapos desejam ser-me.

Quero cristianizar as águas.

Já enxergo o cheiro do sol."

2 comentários:

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