segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O desafio de inventar a tarde

Imagens da janela da sala de casa                                                                                                                           Foto: Vilma Gama

O sol pousa nos galhos e nas folhas das árvores e tinge o espaço de verde, em variados tons. Os edifícios cinzas contemplam enciumados a dança das cores, promovida pelos raios solares de uma tarde de primavera.

E o que nos diz Manoel de Barros em Retrato do artista quando coisa -



Uso um deformante para a voz.

Em mim funciona um forte encanto a tontos.

Sou capaz de inventar uma tarde a partir de 

uma garça.

Sou capaz de inventar um lagarto a partir de 

uma pedra.

Tenho um senso apurado de irresponsabilidades.

Não sei de tudo quase sempre quanto nunca.

Experimento o gozo de criar.

Experimento o gozo de Deus.

Faço vaginação com palavras até meu retrato

aparecer.

Apareço de costas.

Preciso de atingir a escuridão com clareza.

Tenho de laspear verbo por verbo até alcançar

o meu aspro.

Palavras têm que adoecer de mim para que se

tornem mais saudáveis.

Vou sendo incorporado pelas formas pelos

cheiros pelo som pelas cores.

Deambulo aos esgarços.

Vou deixando pedaços de mim no cisco.

O cisco tem agora para mim uma importância 

de Catedral.

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