segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Ninguém consegue fugir do erro que veio - Manoel de Barros

"Havia no lugar um escorrer azul de água

sobre as pedras do córrego.

(Um escorrimento lírico.)

Andava por lá um homem que fora desde

criança comprometido para lata.

Andava entre rãs e borboletas.

Me impressionou a preferência das andorinhas

por ele.

Era um sujeito esmolambado à feição de ser 

apenas uma coisa.

Era um sujeito esmolambado à feição de ser

apenas um trapo.

Percebi que o homem sofria por dentro de uma

enorme germinação de inércia.

Uma inércia que até contaminava o seu andar

e os seus trajos."


Manoel de Barros - Retrato do artista quando coisa.

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