Um recorte de São Paulo. Vista do 17º andar. Minha nova paisagem. (18.11.14) Foto: Vilma Gama |
Falar sobre o cotidiano é simples e complexo. Milhões de desejos, frustrações, realizações. Milhões de dores e contentamentos. De sonhos e pesadelos é formado o cotidiano. Se pudéssemos ressuscitar alguém do século XX, quem seria o eleito? O poeta Vladímir Maiacovski nos aponta a resposta no belíssimo poema "A propósito disto", destaque para o trecho "O amor", o qual reproduzo abaixo.
"O amor"
"Um dia, quem sabe,
ela, que também gostava de bichos,
apareça
numa alameda do zoo,
sorridente,
tal como agora está
no retrato sobre a mesa.
Ela é tão bela,
que, por certo, hão de ressuscitá-la.
Vosso Trigésimo Século
ultrapassará o enxame
de mil nadas,
que dilaceravam o coração.
Então,
de todo amor não terminado
seremos pagos
em inúmeráveis noites de estrelas.
Ressuscita-me,
nem que seja só porque te esperava
como um poeta,
Ressuscita-me,
nem que seja só por isso!
Ressuscita-me!
Quero viver até o fim o que me cabe!
Para que o amor não seja mais escravo
de casamentos,
consupiscência,
salários.
Para que, maldizendo os leitos,
saltando dos coxins,
o amor se vá pelo universo inteiro.
Para que o dia,
que o sofrimento degrada,
não vos seja chorado, mendigado.
E que, ao primeiro apelo:
- Camaradas!
atenta se volte a terra inteira.
Para viver
livre dos nichos das casas.
Para que
doravante
a família
seja
o pai,
pelo menos o Universo;
a mãe,
pelo menos a Terra."
(1923)
Maiakóvski
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Caso queira, deixe seu comentário, ele será extremamente bem-vindo!