sábado, 1 de maio de 2021

Quadro fugaz

                                                                                                                                       Foto: Vilma Gama
                                                                                                            

Numa manhã de abril
Ainda antes do amanhecer
Um espetáculo na janela da sala
A lua com sua luz suave invadiu o espaço e iluminou o ambiente
A janela sem cortinas era cúmplice da invasão


Não sabemos, conscientemente, como acordamos
Acordei, naquela manhã, e uma luz suave e calma se derramava ao lado do sofá 

e sobre meus olhos
Bem no meio da janela,
emoldurada e brilhante,
majestosa,
a lua,
que tem esse dom de traduzir
suavidade em luz,
encantamento em luz,
beleza em luz...
Tem esse dom
de retransmitir a luz do sol


Entre o sonho e o real da sala,
ao abrir os olhos e perceber aquela luz suave, vi o quadro que se desenhava, tendo a janela como moldura
A lua brilhante, silenciosa, linda, ao centro
O céu azul como fundo
e nuvens, brancas e escuras, passando
ora encobrindo, de leve, o seu brilho,
ora apagando-o por inteiro


E a lua, impassível e doce, permanecia lá
com o seu brilho emprestado,
calma e doce,
amanhecendo o dia
E trinta ou quarenta minutos depois...
amanheceu
E o brilho já não clareava o ambiente da sala
A luz do sol, agora, a desenhava como um grande e lindo círculo branco (com seu São Jorge e dragão dentro) 
sobre o azul clarinho,
ainda sob os primeiros raios de sol da manhã,
um azul, que ainda não era tão intenso


Eu olho para ela,
como em um transe...
Ela continua lá, visível, calma,
descendo o céu sem pressa...
E quando o sol se pôr,
ao final de mais um dia,
ela calmamente, docemente,
derramará, novamente,
todo o seu brilho, encantador,
sobre a Terra




                                                Vilma Gama

Quadro fugaz


 

quinta-feira, 1 de abril de 2021

Qual o lugar no mundo do poeta?

 

Visconde de Mauá - RJ                                                                       Foto: Vilma Gama  

Quinta às três da manhã

Acordo

Acendo a luz...


Qual o lugar no mundo do poeta?

Na frente da folha em branco?

Atrás da tela do computador?


Na infância, onde tudo pode, você sonhou ser poeta

Depois o tempo criou o adulto, que foi trabalhar

Depois em um domingo ensolarado, voltou a sonhar... 

e a escrever poesia


Você que sonha o verso,

que é acordado na madrugada

pela poesia que ronda sua cabeça, no sonho, e quer existir

A poesia lhe acorda, com medo de ser esquecida no espaço-tempo entre um sonho desconexo e outro

Ela lhe acorda na madrugada

para que aproveite o silêncio, quando todos dormem

Você que escreve versos,

que enxerga na realidade sua matéria-prima,

que enxerga no sonho sua matéria-prima,

com holofote ou com uma lupa.

Versos longos demais

Versos curtos

Fala sobre o luar, que clareia a noite, para vermos as ondas do mar incessantes.

Fala sobre o trabalho da borboleta, da formiga e do pássaro, que pousou em sua janela.

Fala sobre o vento, que levou embora o calor, que você sentia um minuto  atrás.

E o poeta, neste mundo, na frente da folha em branco ou da tela do computador,

fala do verso que costura o sentido

O remédio

A cura

Uma dádiva

Um presente divino

Um bálsamo para a alma


O poeta é o portador de bálsamos para a alma


                                                                            Vilma Gama




Verão de 2021 - Farol de Santa Marta - SC  




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