segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Ninguém consegue fugir do erro que veio - Manoel de Barros

"Havia no lugar um escorrer azul de água

sobre as pedras do córrego.

(Um escorrimento lírico.)

Andava por lá um homem que fora desde

criança comprometido para lata.

Andava entre rãs e borboletas.

Me impressionou a preferência das andorinhas

por ele.

Era um sujeito esmolambado à feição de ser 

apenas uma coisa.

Era um sujeito esmolambado à feição de ser

apenas um trapo.

Percebi que o homem sofria por dentro de uma

enorme germinação de inércia.

Uma inércia que até contaminava o seu andar

e os seus trajos."


Manoel de Barros - Retrato do artista quando coisa.

domingo, 26 de outubro de 2014

Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Cena de A Fraternidade é Vermelha             Foto: Vilma Gama
Isa e Vilma - Mostra Internacional de Cinema - 22.10.14


                        Av. Paulista vista do Masp                23.10.14                        
Créditos de A Fraternidade é Vermelha - Vão Livre no Masp
Filmes que amei:
  • Charles Chaplin: A Lenda do Século, (2014) dos diretores Frederic Martin e Anne Le Bouch. 


  • A trilogia do diretor polonês  Krzystof Kieslowski (1941-1996)  - A liberdade é azul (1993); A igualdade é branca (1994) e A fraternidade é vermelha (1994).



Filme que gostei:

  • Labyrinthus, (2014), do diretor Douglas Boswell.


Filme que gostei um pouco:
  • Algum lugar belo, (2014), do diretor Albert Kodagolian.


Filmes que não agradaram:
  • Pare ou eu sigo em frente, (2014), da diretora Sophie Fillières.
  • Sonho e silêncio, (2012), do diretor Jaime Rosales.
  • Código desconhecido, (2010), do diretor Michael Haneke.

sábado, 25 de outubro de 2014

Há 41 anos o reggae era assim, poesia emoldurada nas linhas de baixo e batera.





Ensaio gravado em 24 de outubro de 1973 no Estúdio Capitol Records, Hollywood, Califórnia.
Bob Marley and the Wailers estão em turnê e se preparam para o próximo show, que será em San Francisco.
Na estrada desde abril eles passaram por Londres, Edmonton, Leicester, Southampton, Boston, Nova York, Flórida, Kentucky e Denver. 
Destaque para a música Kinky Reggae e para o cabelo do Marley (kinky) antes dos famosos dreadlocks.
Positive vibration!

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

O sol

                                                                                                                                                                                  Rio São Francisco
Em uma tarde, alguém observa o sol, sentado em um barranco ao lado de um rio. Como companheiros um caderno, formigas, garças e uma brisa. O ensaio de um abraço desenhado nas frases do caderno e delineado nas patas de uma formiga.


Manoel de Barros (Retrato do artista quando coisa)

"Este é um caderno de haver frases nele.

Um rio passa perto.

Estou sentado no barranco do rio.

Emas no pátio engolem cobras.

Uma formiga está de boca aberta para a tarde.

As quatro patas da formiga tentam abraçar o sol.

Na verdade, não sei se são as patas da formiga

que tentam abraçar o sol

Ou se são minhas frases que desejam fazer esse

trabalho.

Agora uma brisa me garça.

E os arrebóis latejam."





quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Um dom

Janela de casa                                                                                                                                                             Foto: Vilma Gama


Exercício de contemplação da beleza. O que pode ser mais bonito que o feitiço das palavras ajeitadas pelo poeta em "Retrato do artista quando coisa". Enfeitiçados leitores... Manoel de Barros:


"Deus disse: Vou ajeitar a você um dom:

Vou pertencer você para uma árvore.

E pertenceu-me.

Escuto o perfume dos rios.

Sei que a voz das águas tem sotaque azul.

Sei botar cílio nos silêncios.

Para encontrar o azul eu uso pássaros.

Só não desejo cair em sensatez.

Não quero a boa razão das coisas.

Quero o feitiço das palavras."

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Os 100 anos de Carlitos

Charles Chaplin: A Lenda do Século



Comentei com uma amiga, ontem, que assisti a um dos melhores filmes da minha vida: "Charles Chaplin: a Lenda do Século", documentário dirigido por Anne Le Bouch e Frédéric Martin. Ri e chorei do início ao fim.
Trata-se da homenagem feita pela Mostra Internacional de Cinema de São Paulo aos 100 anos do personagem mais genial da história do cinema, o Carlitos, de Charles Chaplin, um vagabundo que carrega uma certa ternura no olhar.
A primeira aparição de Carlitos aconteceu há um século, no curta-metragem mudo "Corrida de automóveis para meninos", de 1914, dirigido por Henry Lehrman. A equipe simplesmente invade as filmagens da corrida de automóveis (os avôs do atuais karts). Não havia roteiro. Carlitos atua de improviso e rouba a cena. O público presente, que pretendia assistir a competição, não imaginava estar testemunhando o surgimento do personagem mito do século XX.

Sobre Chaplin:

Charles Spencer Chaplin, ator, diretor e roteirista, nasceu em Walworth, subúrbio de Londres, Inglaterra, em 16 de abril de 1889, fez a passagem aos 88 anos, em 25 de dezembro de 1977, em Vevey, na Suíça. Curioso que, em razão de sua infância pobre, ele detestava o Natal, confidenciou um de seus filhos no documentário, que para mim revelou-se como uma biografia comovente. 

Ainda dá tempo de ver:

Para quem estiver interessado - o documentário "Charles Chaplin: A Lenda do Século" será exibido, em São Paulo, no dia 25, às 14 horas, no Espaço Itaú Frei Caneca e no dia 28, às 19h40, no Espaço Itaú Augusta. 
Dia 1º, às 20 horas, no Parque Ibirapuera, serão exibidos os filmes: "Corrida de automóveis para meninos" (1914) e "O Circo" (1928). 
Pronto, falei. Na minha opinião, imperdível.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

A Ilha Linguística

Aceitei o convite do poeta Manoel de Barros para um passeio por sua Ilha Linguística...





















"O lugar onde a gente morava era um Ilha

Linguística, no jargão dos Dialetólogos ( com

perdão da má palavra).

Isto seja: que a gente morava em lugar isolado:

núcleo de dez a vinte pessoas, onde poderia

germinar um idioleto.

Na enchente só entravam batelões e bois de sela

que iam levar mantimentos.

Senão a gente teria que chupar bocaiuva, comer

ovo de ema e tirar mel de pau para sobremesa.

Os anos passavam por longe, ninguém enxergava.

Nas campinas só havia trilheiros de anta.

Quase toda extensão era tomada por

frangos-d'água.

O resto ia no invento.

Pois que inventar aumenta o mundo.

A gene aprendia coisas de sexo vendo os

cachorros emendados, vendo os cavalos nas

éguas e os touros nas vacas.

Camões chamava a isso de 'Venéreo ajuntamento'.

Mas a gente não sabia de Camões e nem de

venéreos.

De novidade tinha por lá uma simpatia para

obter namoro.

Era rabo de lagartixa torrado.

O pó se jogava nos cabelos da moça.

Na primeira poção a moça cede - diziam.

Mas a Ilha Linguística para nós ainda era um

desnome."


Manoel de Barros - Retrato do artista quando coisa