sábado, 15 de novembro de 2014

Baby do Brasil - Telúrica





                Baby do Brasil, Américo Rodrigues e Vilma Gama ontem (14) no camarim da cantora no Grand Metrópole

Convidada por Tulipa Ruiz, Baby do Brasil deu um show no Grand Metrópole, em São Paulo. O presente foi nosso, conversamos com a Baby que nos atendeu gentilmente em seu camarim. Seu talento, carisma e simplicidade nos encantou. "Eu vejo o mar e penso em ti/ mandes prana para mim... para ser telúrica... A ideia ilumina dá o toque e anima, o aroma do perfume, o lume do vagalume/ o pensamento das flores, significado das cores para ser telúrica, para ser telúrica..."
Significados: 
Telúrica: (adjetivo) - Da Terra ou a ela relativo. Relativo  ao solo.
Prana: (subst. masc.) (sânscrito) - O princípio da vida.



"Telúrica"


"Vejo o sol e penso em ti 

Mandes prana para mim 

Que esses raios de ouro cor

Penetrem nos meus chacras me


Colorindo de amor


Vejo o mar e penso em ti


Mandes prana para mim


Que esse espelho - luz fulgor


Penetre nos meus chacras


Numa onda de amor


Fecho os olhos entrego o ser


Para ser telúrica


Alma e corpo compreender


Para ser telúrica


Penso em ti no meu agir


Para ser telúrica


Não aceito preconceito


Para ser telúrica


Para ser telúrica



A idéia ilumina


Dá o toque e anima


O aroma do perfume


O lume do vagalume


O pensamento das flores


Significado das cores


Para ser telúrica


Para ser telúrica"


Baby do Brasil

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Procure ser árvore





"As árvores velhas quase todas foram preparadas

para o exílio das cigarras.

Salustiano, um índio guató, me ensinou isso.

E me ensinou mais:  Que as cigarras do exílio

são os únicos seres que sabem de cor quando a

noite está coberta de abandono.

Acho que a gente deveria dar mais espaço para

esse tipo de saber.

O saber que tem força de fontes."


Manoel de Barros







quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Só Dez Por Cento é Mentira



"Só dez por cento é mentira" (2008) é um documentário de Pedro Cezar sobre a biografia inventada de Manoel de Barros. Eu me emocionei o tempo inteiro. Imperdível.







Até logo Manoel de Barros



Hoje (13) faleceu o poeta Manoel de Barros, aos 97 anos, em Campo Grande - MS. Passou a infância no Pantanal. Cresceu tornou-se advogado, depois fazendeiro, táticas para poder exercer sempre seu verdadeiro ofício: poeta. Viveu para as palavras.
    O blog Dizeres Poéticos nasceu por culpa de Manoel de Barros. No final de setembro caiu em minhas mãos o livro "Retrato do artista quando coisa", aí a magia começou e continuo para sempre encantada com o melhor poeta do século XX, assim o considerava Carlos Drummond de Andrade.
     Fausto Wolff, que apresenta o livro "Retrato do artista quando coisa"  falou sobre o amigo: "Este é o sujeito que vê uma letra e a entorta. Depois fica vigiando até descobrir para que ela não serve. E a falta de serventia da letra que Manoel entortou descongela o nosso cérebro, atiça nossa visão, nos redimensiona." Segundo Fausto: "Manoel tem com os trovões, ventos e crepúsculos, a intimidade que Drummond tinha com fenômenos urbanos. Manoel é incomparável; está longe dos demais poetas. Mais fácil compará-lo a Picasso e De Kooning, os grandes decompositores de artes plásticas que, como ele, dessencializavam a forma até torná-la pura. Suas metáforas cumprem a função das metáforas: expandem a nossa imaginação."

Livros publicados:

“Poemas concebidos sem pecado” (1937)

“Face imóvel” (1942)

“Poesias” (1956)

“Compêndio para uso dos pássaros” (1960)

“Gramática Expositiva do Chão” (1966)

“Matéria de Poesia” (1974)

“Arranjos para Assobio” (1980)

“Livro de Pré-Coisas” (1985)
“O Guardador de Águas” (1989)
“Poesia Quase Toda” (1990)
“Concerto a Céu Aberto para Solos de Ave” (1991)
“O Livro da Ignorãças” (1993)
“Livro Sobre Nada” (1996)
Retrato do Artista Quando Coisa” (1998)
“Ensaios Fotográficos” (2000)
“Exercícios de Ser Criança” (2000)
“Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo” (2001)
“O Fazedor de Amanhecer” (2001)
“Poeminhas Pescados numa Fala de João” (2001)
“Cantigas para Um Passarinho à Toa” (2003)
“Memória Inventadas” (2003)
“Poemas Rupestres” (2004)
“Memória Inventadas II – A Segunda Infância” (2005)
“Poeminha em Língua de Brincar” (2007)
“Memória Inventadas III – A Terceira Infância” (2007)
 “Menino do Mato” (2010)
"Escritos em Verbal de Ave" (2011)
O último poema escrito em 2013 "A turma" está no livro:
"A biblioteca de Manoel de Barros" (2013) - Obra completa do poeta lançado pela editora Leya.
Cercado por bons sentimentos vindos da família, dos amigos, dos livros e de seus encantados leitores, presentes ou não, o poeta nascido em 19 de dezembro de 1916 se despede hoje (13 de novembro de 2014) do planeta Terra. Missão cumprida.

Para a participação da poesia

Vista da janela da sala                                                                                                                                                Foto: Vilma Gama


Para o que somos feitos? Eis a indagação de muitos seres humanos. A reflexão sobre a própria existência é coisa da espécie humana. As outras espécies são imortais.
Por isso destaco este belíssimo poema de Vinícius de Morais, uma luz para nos conduzir em nossas reflexões.


"Poema de Natal"


"Para isso fomos feitos:

Para lembrar e ser lembrados

Para chorar e fazer chorar

Para enterrar os nossos mortos -

Por isso temos braços longos para os adeuses

Mãos para colher o que foi dado

Dedos para cavar a terra.



Assim será a nossa vida:

Uma tarde sempre a esquecer

Uma estrela a se apagar na treva

Um caminho entre dois túmulos -

Por isso precisamos velar

Falar baixo, pisar leve, ver

A noite dormir em silêncio



Não há muito que dizer:

Uma canção sobre um berço

Um verso, talvez de amor

Uma prece por quem se vai - 

Mas que essa hora não esqueça

E por ela os nossos corações

Se deixem, graves e simples.




Pois para isso fomos feitos:

Para a esperança no milagre

  Para a participação da poesia       

Para ver a face da morte -

De repente nunca mais esperaremos...

Hoje a noite é jovem: da morte, apenas

Nascemos, imensamente."


quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A música das almas

Vista da janela de casa                                                                                                                                               Foto: Vilma Gama
Somos mais que corpo, mais que somente o visível, mais que matéria. Somos sentimento, sonho, possibilidade. Gostamos de música e o poeta Vinícius de Moraes fala sobre ela.


                         "A música das almas"


Na manhã infinita as nuvens surgiram como a loucura numa

                                                                                   [alma

E o vento como o instinto desceu os braços das árvores que

                                                         [estragularam a terra...

Depois veio a claridade, os grandes céus, a paz dos 

campos...

Mas nos caminhos todos choravam com os rostos levados 

para   

                                                                                 [o alto

Porque a vida tinha misteriosamente passado na tormenta."



                                                  

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Aviso aos náufragos

Registro do amanhecer                                                                                                                Foto: Victor Luís Gama Rodrigues

O recado é do poeta Paulo Leminski, do livro Toda Poesia.


aviso aos náufragos

    "Esta página, por exemplo,

não nasceu para ser lida.

     Nasceu para ser pálida,

um mero plágio da Ilíada,

     alguma coisa que cala,

folha que volta pro galho,

    muito depois de caída.




    Nasceu para ser praia,

quem sabe Andrômeda, Antártida,

    Himalaia, sílaba sentida,

nasceu para ser última

    a que não nasceu ainda.



    Palavras trazidas de longe

pelas águas do Nilo,

    um dia, esta página, papiro,

vai ter que ser traduzida,

    para o símbolo, para o sânscrito,

para todos os dialetos da Índia,

    vai ter que dizer bom dia

ao que só se diz ao pé do ouvido,

    vai ter que ser a brusca pedra

onde alguém deixou cair o vidro.

    Não é assim que é a vida?"