sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Homenagem aos 98 anos de Manoel de Barros

Manoel de Barros

Hoje, 19 de dezembro, o poeta Manoel de Barros 

completaria 98 anos de vida terrena. Nasceu em Cuiabá - 

MT, no Beco da Marinha, beira do rio Cuiabá. Em 13 de 

novembro último deixou o planeta e nele 24 livros 

publicados. Destaco "Retrato do artista quando 

coisa", de 1998, amplamente divulgado neste blog, por 

gratidão e por ser maravilhoso, assim como tudo o  que 

Manoel escreveu.



Sobre a rotina de ser poeta, disse em entrevista a José 

Castello, em agosto de 1996, no jornal "O Estado de S. 

Paulo":

"Exploro os mistérios irracionais dentro de uma toca que 

chamo 'lugar de ser inutil'. Exploro há 60 anos esses 

mistérios. Descubro memórias fósseis. Osso de urubu, etc. 

Faço escavações. Entro às 7 horas, saio ao meio-dia. Anoto

coisas em pequenos cadernos de rascunho. Arrumo versos, 

frases, desenho bonecos. Leio a Bíblia, dicionários, às vezes

percorro séculos para descobrir o primeiro esgar de uma 

palavra. E gosto de ouvir e ler "Vozes da Origem". Gosto de

coisas que começam assim: "Antigamente, o tatu era gente 

e namorou a mulher de outro homem". Está no livro "Vozes

da Origem", da antropóloga Betty Mindlin. Essas leituras me

ajudam a explorar os mistérios irracionais. Não uso 

computador para escrever. Sou metido. Sempre acho que 

na ponta de meu lápis tem um nascimento."




Segue abaixo o trailer do documentário "Só dez por cento é

 mentira", de Pedro Cézar. Trata-se da encantadora

 desbiografia oficial 

do poeta Manoel de Barros. Publico somente o trailer, 

porque já publiquei neste blog o filme na 

íntegra, em 13 de novembro último,por ocasião de sua

 despedida do planeta Terra. Caso queiram ver na íntegra é 

só clicar na publicação do dia 13.11.14 deste pequeno blog. 










quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Érico Veríssimo - 109 anos




O escritor Érico Lopes Veríssimo completaria 109 anos, 

ontem, 17 de dezembro, caso estivesse em nosso planeta.

Nasceu em Cruz Alta - RS em 17.12.1905, e fez a 

passagem há 39 anos, em 28 de novembro de 1975.

Em 1973 publicou sua autobiografia intitulada  "Solo de 

clarineta".

Faleceu subitamente e deixou inacabado o segundo volume 

de suas memórias, que se chamaria "A hora do sétimo

 anjo".



"A vida vale a pena ser vivida apesar de todas suas

dificuldades, tristezas e momentos de dor e angústia.

O mais importante que existe sobre a face da terra é a

pessoa humana. E surpreender o homem no ato de viver é

uma das coisas mais fantásticas que existe.”

Érico Veríssimo




"Em geral quando termino um livro encontro-me numa 

confusão de sentimentos, um misto de alegria, alívio e vaga

tristeza. Relendo a obra mais tarde, quase sempre penso

'Não era bem isto o que queria dizer'."

(O escritor diante do espelho)

Érico Veríssimo






"Estive pensando na fúria cega com que os homens se atiram à caça do dinheiro. É essa a causa principal dos

dramas, das injustiças, da incompreensão da nossa época.

Eles esquecem o que têm de mais humano e sacrificam o 

que a vida lhes oferece de melhor: as relações de criatura 

para criatura.

De que serve construir arranha-céus se não há mais almas 

humanas para morar neles.

(...) É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas 

passivas seria também triste e sem beleza. Precisamos, 

entretanto, dar um sentido humano às nossas construções.

E quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver 

deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios 

do campo e as aves do céu."

(Olhai os Lírios do Campo)

Érico Veríssimo



"Eu queria fazer um livro não da vida como ela é, mas como 

eu queria que ela fosse. Um livro para a gente pegar e ler 

quando quisesse esquecer a vida real... Eu entendo a Arte

como sendo uma errata da vida. A página tal, onde se lê 

isto, leia-se aquilo..."


Érico Veríssimo em "Um lugar ao sol".




"O espírito da gentileza podia salvar o mundo. O que nos

falta é isso: espírito de gentileza. Boas maneiras de homem

para homem, de povo para povo."

Érico Veríssimo



Carlos Drummond de Andrade homenageou o amigo ao publicar o seguinte poema:

Carlos Drummond de Andrade
"A falta de Érico Veríssimo"


"Falta alguma coisa no Brasil

depois da noite de sexta-feira

Falta aquele homem no escritório

a tirar da máquina elétrica

o destino dos seres,

a explicação antiga da terra.

Falta uma tristeza de menino bom

caminhando entre adultos

na esperança da justiça

que tarda - como tarda!

a clarear o mundo.

Falta um boné,

aquele jeito manso,

aquela ternura contida, óleo a derramar-se lentamente.

Falta o casal passeando no trigal.

Falta um solo de clarineta."



quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Autodefinição - Jorge Luís Borges



"Sou"

"Sou o que sabe não ser menos vão
Que o vão observador que frente ao mudo
Vidro do espelho segue o mais agudo
Reflexo ou o corpo do irmão.
Sou, tácitos amigos, o que sabe
Que a única vingança ou o perdão
É o esquecimento. Um deus quis dar então
Ao ódio humano essa curiosa chave.
Sou o que, apesar de tão ilustres modos
De errar, não decifrou o labirinto
Singular e plural, árduo e distinto,
Do tempo, que é de um só e é de todos.
Sou o que é ninguém, o que não foi a espada
Na guerra. Um esquecimento, um eco, um nada."

                                  




terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Livros - Jorge Luís Borges



O genial Jorge Luís Borges reflete sobre sua obra, e é

interessante testemunhar esse momento em que o criador 

pensa sobre o significado de seus escritos. É isso que nos 

traz o belíssimo poema abaixo:



"Os meus livros"


"Os meus livros (que não sabem que existo)

São uma parte de mim, como este rosto


De têmporas e olhos já cinzentos

Que em vão vou procurando nos espelhos

E que percorro com a minha mão côncava.

Não sem alguma lógica amargura

Entendo que as palavras essenciais,

As que me exprimem, estarão nessas folhas

Que não sabem quem sou, não nas que escrevo.

Mais vale assim. As vozes desses mortos

Dir-me-ão para sempre."


                       Jorge Luís Borges




segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Poema de Natal - Vinícius de Moraes

Fernando de Noronha                                                                                                                                                         Foto: Tuca Noronha
O poema de Vinícius de Moraes é dedicado à família Prado, que experimenta um momento delicado e desafiador em suas vidas. Homenagem e gratidão a Eurico Luís Costa Prado por acolher a todos em seu coração.



"Poema de Natal"


Para isso fomos feitos:

Para lembrar e ser lembrados

Para chorar e fazer chorar

Para enterrar os nossos mortos -

Por isso temos braços longos para os adeuses

Mãos para colher o que foi dado

Dedos para cavar a terra.



Assim será a nossa vida:

Uma tarde sempre a esquecer

Uma estrela a se apagar na treva

Por isso precisamos velar

Falar baixo, pisar leve, ver

A noite dormir em silêncio



Não há muito que dizer:

Uma canção sobre um berço

Um verso, talvez, de amor

Uma prece por quem se vai -

Mas que essa hora não esqueça

E por ela os nossos corações

Se deixem, graves e simples.



Pois para isso fomos feitos:

Para a esperança no milagre

Para a participação da poesia

Para ver a face da morte -

De repente nunca mais esperaremos...

Hoje à noite é jovem; da morte, apenas

Nascemos, imensamente."


                              Vinícius de Moraes


sábado, 13 de dezembro de 2014

Diálogo entre a poesia Instantes de Jorge Luís Borges e a música Epitáfio dos Titãs


Caverna da Ponta da Sapata  - Fernando de Noronha              Foto: Tuca Noronha

O polêmico poema, póstumo, de Jorge Luís Borges é o prato principal do cardápio do blog. Caso notem semelhanças entre a poesia "Instantes" e a letra da música "Epitáfio", de Sérgio Brito, da  banda Titãs, elas não terão sido mera coincidência. Seguem abaixo poema e músicas. Boas reflexões.

"Instantes"


"Se eu pudesse viver novamente a minha vida,

na próxima trataria de cometer mais erros.

Não tentaria ser tão perfeito,

relaxaria mais, seria mais tolo do que tenho sido.

Na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.

Seria menos higiênico. Correria mais riscos,

viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,

subiria mais montanhas, nadaria mais rios.

Iria a mais lugares onde nunca fui,

tomaria mais sorvetes e menos lentilha,

teria mais problemas reais e menos problemas imaginários.

Eu fui uma dessas pessoas que viveu sensata

e profundamente cada minuto de sua vida;

claro que tive momentos de alegria.

Mas se eu pudesse voltar a viver trataria somente 

de ter bons momentos.

Porque se não sabem, disso  é feita a vida, só de 

momentos;

não percam o agora.

Eu era um daqueles que nunca ia

a parte alguma sem um termômetro,

uma bolsa de água quente, um guarda-chuva e um pára-

quedas e,

se voltasse a viver, viajaria mais leve.

Se eu pudesse voltar a viver,

começaria a andar descalço no começo da primavera

e continuaria assim até o fim do outono.

Daria mais voltas na minha rua, 

contemplaria mais amanheceres e brincaria com mais 

crianças,

se tivesse outra vez uma vida pela frente.

Mas, já viram, tenho 85 anos e estou morrendo."

Jorge Luís Borges









sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Pequenos gestos



Os pequenos gestos são importantes,

tomam corpo.

Pequenos gestos felizes são

coisas simples que fazem a diferença...

Encontrar um amigo por acaso, sem esperar,

e sentir que a pessoa se importa.

Ver uma criança pequena andar de patinete, ao lado da

mãe, em uma calçada perto de casa. A imagem deste fato, 

que aconteceu comigo, é sempre viva.

Rua Purpurina, trajeto.

A brincadeira do pequeno menino atravessou o 

caminho do trabalho, dissipou a poluição, o stress, e o 

temor, que rondavam.

A cena trouxe de volta o riso, sempre bem-vindo.

Era possível sentir que a felicidade do pequeno emanava 

daquele gesto simples e me atingia.

Andar de patinete na calçada, brincar despretensiosamente,

numa manhã ensolarada com seu patinete 

Despretensiosamente brincar. Fugir das armadilhas da 

mente.

Aquela imagem trouxe de volta o sorriso e a leveza, que 

devemos ter sempre no bolso.


Os pequenos gestos são importantes, tomam corpo e 

tornam a vida feliz.


Vilma Gama