domingo, 22 de março de 2015

Dias nacional e mundial da poesia - Castro Alves

                                                                               Foto: Ans Vink
                                                                              Foto: Ans Vink




Nos dias 14 e 21 de março comemorou-se, respectivamente,  o Dia Nacional e o Dia Mundial da Poesia.
A data nacional foi escolhida para homenagear o poeta Castro Alves, que nasceu em Muritiba-BA em 14.3.1847 e que deixou o planeta muito jovem, aos 24 anos, em 6.7.1871.
A data mundial foi criada na XXX Conferência Geral da Unesco em 16.11.1999, ocasião em que foi legado ao dia 21 de março essa importante tarefa de sublinhar a existência da poesia mundialmente. O propósito deste dia é promover a leitura, a escrita, publicação e ensino da poesia em todo o mundo.




"As três irmãs do poeta"


"É noite! as sombras correm nebulosas.
Vão três pálidas virgens silenciosas
Através da procela irrequieta.
Vão três pálidas virgens... vão sombrias
Rindo colar num beijo as bocas frias...

Na fronte cismadora do Poeta:
'Saúde, irmão! Eu sou a Indiferença.
Sou eu quem te sepulta a ideia imensa,
Quem no teu nome a escuridão projeta...
Fui eu que te vesti do meu sudário...
Que vais fazer tão triste e solitário?...'

-'Eu lutarei!' - responde-lhe o Poeta.
'Saúde, meu irmão! Eu sou a Fome.
Sou eu quem o teu negro pão consome...
O teu mísero pão, mísero atleta!
Hoje, amanhã, depois... depois (qu'importa?)
Virei sempre sentar-me à tua porta...'

-'Eu sofrerei' - responde-lhe o Poeta.
'Saúde, meu irmão! Eu sou a Morte.
Suspende em meio o hino augusto e forte.
Marquei-te a fronte, mísero profeta!
Volve ao nada! Não sentes neste enleio
Teu cântico gelar-se no meu seio?!
-'Eu cantarei no céu' - diz-lhe o Poeta!"


                                                         Castro Alves

quarta-feira, 18 de março de 2015

Motivo - Cecília Meireles e Fagner


Praça do condomínio                                                                                                                                                  Foto: Vilma Gama
Há muitos motivos para celebrar Cecília Meireles. 
Ela foi poetisa, professora, pedagoga e jornalista. 
A maioria de suas obras expressa estados de ânimo, predominam os sentimentos de perda amorosa e solidão. Uma das marcas do lirismo de Cecília Meireles é a musicalidade de seus versos. Alguns poemas como "Canteiros"' e "Motivo" foram musicados por Fagner. 
Comprovando a tese de musicalidade, no vídeo abaixo Fagner canta, ao vivo, "Paralelas", do amigo Belchior, e "Motivo", de Cecíla Meireles.


"Motivo"


"Eu canto porque o instante existe 
e a minha vida está completa. 
Não sou alegre nem sou triste: 
sou poeta. 


 Irmão das coisas fugidias, 
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias 
no vento. 

 Se desmorono ou se edifico, 
se permaneço ou me desfaço,
 - não sei, não sei. Não sei se fico 
ou passo. 


 Sei que canto. E a canção é tudo. 
Tem sangue eterno a asa ritmada. 
E um dia sei que estarei mudo: 
- mais nada."

                                  Cecília Meireles


Cecília Meireles

domingo, 15 de março de 2015

Cora Coralina nos aponta o caminho das pedras

Céu do dia 29 de dezembro de 2014                                                                                                                          Foto: Vilma Gama

Este espaço é de Cora Coralina.


"Aninha e suas pedras"



"Não te deixes destruir...

Ajuntando novas pedras

e construindo novos poemas.

Recria tua via, sempre, sempre.

Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.

Faz de tua vida mesquinha

um poema.

E viverás no coração dos jovens

e na memória das gerações que hão de vir.

Esta fonte é para uso de todos os sedentos.

Toma a tua parte.

Vem a estas páginas

e não entraves seu uso

aos que têm sede."


                             Cora Coralina

sábado, 14 de março de 2015

Belo planeta - música de Fagner e poesia de Florbela Espanca


Linda praia em Fernando de Noronha                                                                                                                          Foto: Tuca Noronha
Fagner no disco "Traduzir-se" apresenta o poema musicado "Fanatismo", de Florbela Espanca.
A poetisa portuguesa, nascida aos 8 de dezembro de 1894, despediu-se do planeta, aos 36 anos, em 8 de dezembro de 1930.


                                     "Fanatismo"



"Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida

Meus olhos andam cegos de te ver!

Não és sequer a razão do meu viver,

Pois que tu és já toda a minha vida!



Não vejo nada assim enlouquecida...

Passo no mundo, meu Amor, a ler

No misterioso livro do teu ser

A mesma história, tantas vezes lida!



Tudo no mundo é frágil, tudo passa...

Quando me dizem isto, toda a graça

Duma boca divina, fala em mim!



E, olhos postos em ti, digo de rastros:

Podem voar mundos, morrer astros,

Que tudo és como um deus: princípio e fim!"

Florbela Espanca



Florbela Espanca
                                                     



quinta-feira, 12 de março de 2015

Fragmento da poesia de Fernando Pessoa

Morro do Farol de Santa Marta - SC                                                                                                                               Foto: Vilma Gama


Posso me tornar uma pedra, uma flor ou uma ideia abstrata, eis a proposta lançada por Fernando Pessoa.




"A passagem das horas"



"Sentir tudo de todas as maneiras,

Viver tudo de todos os lados,

Ser a mesma cousa de todos os modos possíveis ao 

mesmo tempo,

Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos

Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo.



Eu quero ser sempre aquilo com quem simpatizo,

Eu torno-me sempre, mais tarde ou mais cedo,

Aquilo com quem simpatizo, seja uma pedra ou uma ânsia,

Seja uma flor ou uma ideia abstrata,

Seja uma multidão ou um modo de compreender Deus.

E eu simpatizo com tudo, vivo de tudo em tudo."

                                                     Fernando Pessoa

Farol de Santa Marta - SC                                                                                                                                          Foto: Vilma Gama


terça-feira, 10 de março de 2015

Renovar o mundo usando borboletas - Manoel de Barros

O poeta que se dizia "caçador de achadouros da infância", afirmou que poesia não é para compreender, mas para incorporar. "Entender é parede: procure ser árvore".
O videopoema abaixo é uma declaração de amor às palavras.





Manoel de Barros

segunda-feira, 9 de março de 2015

O medo segundo Manoel de Barros

Prainha e Praia Grande - Farol de Santa Marta - SC                                                                                               Foto: Vilma Gama


O medo é um sentimento humano. Ele nos acompanha em nossas vidas em muitos momentos. O que fazer se não podemos lhe dispensar a companhia. Eu recorro à poesia...



"Eu sou o medo da lucidez.

Choveu na palavra onde eu estava.

Eu via a natureza como quem a veste.

Eu me fechava com espumas.

Formigas vesúvias dormiam por baixo de trampas.

Peguei umas ideias com as mãos - como a peixes.

Nem era muito que eu me arrumasse por versos.

Aquele arame do horizonte que separava o morro do céu

 estava rubro.

Um rengo estacionou entre duas frases.

Um descor

Quase uma ilação do branco.

Tinha um palor atormentado a hora.

      O pato dejetava liquidamente ali." 

                                                                                                                             Manoel de Barros