segunda-feira, 13 de abril de 2015

O sonho do rio



O poema escolhido, para compor o blog hoje, fala do sentimento do rio.
É de um poeta chamado Carlos Nóbrega, e chegou até mim como um presente, durante a festa de uma pessoinha querida, no Parque Previdência, em São Paulo. Parabéns mais uma vez Mariana, que seus onze anos de existência estejam repletos de poesia.


"O rio, sem lençóis"


"O sonho do rio

é ser mar? Não,

O sonho do rio

é menor.

O rio só sonha

ser limpo.

O sonho do rio

é ser peixe? Não.

O sonho do rio

é mais simples.

O sonho do rio

é só tê-los.

O sonho do rio

é expansão? Não.

O sonho do rio

é conter-se

Apenas

continuar-se.

O sonho do rio

é afogar-te? Não

O sonho do rio

é se dar

Com cidades

às margens."

domingo, 12 de abril de 2015

Aquela mágoa sem remédio - Paulo Leminski



"Bem no fundo"



"No fundo, no fundo,

bem lá no fundo,

a gente gostaria

de ver nossos problemas

resolvidos por decreto



a partir desta data,

aquela mágoa sem remédio

é considerada nula

e sobre ela - silêncio perpétuo



extinto por lei todo o remorso,

maldito seja quem olhar pra trás,

lá pra trás não há nada,

e nada mais



mas problemas não se resolvem,

problemas têm família grande,

e aos domingos

saem todos a passear

o problema, sua senhora

e outros pequenos probleminhas."
                                Paulo Leminski

Paulo Leminski, Alice Ruiz e Caetano Veloso

sábado, 11 de abril de 2015

Por dentro ou por fora - Paulo Leminski

Verde, lilás e amarelo - Parque da Água Branca                                                                                                              Foto: Vilma Gama



"Eu"


"Eu

quando olho nos olhos

sei quando uma pessoa

está por dentro 

ou está por fora  quem está por fora

não segura

um olhar que demora de dentro de meu centro

este poema me olha."

                                                        Paulo Leminski

sexta-feira, 10 de abril de 2015

A vida é urgente ensina Mário Quintana


"Poema Transitório"

(...) é preciso partir

é preciso chegar

é preciso partir é preciso chegar... Ah, como esta vida é 

urgente!


...no entanto

eu gostava mesmo era de partir...

e - até hoje - quando acaso embarco

para alguma parte

acomodo-me no meu lugar

fecho os olhos e sonho:

viajar, viajar

mas para parte nenhuma...

viajar indefinidamente...

com uma nave espacial perdida entre as estrelas."

                                                               Mário Quintana

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Definição de poesia - Federico Garcia Lorca

Rosa na rua de casa - 29.12.2014                                                                                        Foto: Vilma Gama



"A poesia é a união de duas palavras que nunca se supôs

que se pudessem juntar e que formam uma espécie de

mistério."


                                                       Federico Garcia Lorca


quarta-feira, 8 de abril de 2015

O que não cabe ao vento - Mário Quintana

  Na pracinha                                                                                                                                                                   Foto: Vilma Gama


E se os problemas ou o vento quiserem te levar para lugares distantes, agarres nas coisas mais leves...


"No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas

que o vento não conseguiu levar:

um estribilho antigo

um carinho no momento preciso

o folhear de um livro de poemas

o cheiro que tinha um dia o próprio vento..."

                                                  Mário Quintana




Mário Quintana

terça-feira, 7 de abril de 2015

A arte de interpretar os silêncios - Fernando Pessoa


f
                                                                                                                                                                                    Fernando Pessoa

A poesia a serviço do indecifrável ou a busca do conhecimento do outro, eis o tema do poeta Fernando Pessoa.




"É fácil trocar as palavras,

Difícil é interpretar os silêncios!

É fácil caminhar lado a lado,

Difícil é saber como se encontrar!

É fácil beijar o rosto,

Difícil é chegar ao coração!

É fácil apertar as mãos,

Difícil é reter o calor!

É fácil sentir o amor,

Difícil é conter sua torrente!



Como é por dentro outra pessoa?

Quem é que o saberá sonhar?

A alma de outrem é outro universo

Com que não há comunicação possível,

Com que não há verdadeiro entendimento.



Nada sabemos da alma

Senão da nossa;

As dos outros são olhares,

São gestos, são palavras,

Com a suposição

De qualquer semelhança no fundo."

                                  
                                              Fernando Pessoa