quarta-feira, 15 de abril de 2015

Lembrança de Leminski



"Lembrem de mim"



"Lembrem de mim

como de um

que ouvia a chuva

como quem assiste missa

como quem hesita, mestiça,

entre a pressa e a preguiça."


Paulo Leminski



terça-feira, 14 de abril de 2015

Gorjeio é mais bonito do que canto - Manoel de Barros

Registro da praça do condomínio em 31.12.2014                                                                                                             Foto: Vilma Gama


"Gorjeios"


"Gorjeio é mais bonito do que canto porque nele se

inclui a sedução.

É quando a pássara está enamorada que ela gorjeia.

Ela se enfeita e bota novos meneios na voz.

Seria como perfumar-se a moça para ver o namorado.

É por isso que as árvores ficam loucas se estão gorjeadas.

É por isso que as árvores deliram.

Sob o efeito da sedução da pássara as árvores deliram.

E se orgulham de terem sido escolhidas para o concerto.

As flores dessas árvores depois nascerão mais perfumadas."

                                                              Manoel de Barros

                                                                                                                                           Manoel de Barros

segunda-feira, 13 de abril de 2015

O sonho do rio



O poema escolhido, para compor o blog hoje, fala do sentimento do rio.
É de um poeta chamado Carlos Nóbrega, e chegou até mim como um presente, durante a festa de uma pessoinha querida, no Parque Previdência, em São Paulo. Parabéns mais uma vez Mariana, que seus onze anos de existência estejam repletos de poesia.


"O rio, sem lençóis"


"O sonho do rio

é ser mar? Não,

O sonho do rio

é menor.

O rio só sonha

ser limpo.

O sonho do rio

é ser peixe? Não.

O sonho do rio

é mais simples.

O sonho do rio

é só tê-los.

O sonho do rio

é expansão? Não.

O sonho do rio

é conter-se

Apenas

continuar-se.

O sonho do rio

é afogar-te? Não

O sonho do rio

é se dar

Com cidades

às margens."

domingo, 12 de abril de 2015

Aquela mágoa sem remédio - Paulo Leminski



"Bem no fundo"



"No fundo, no fundo,

bem lá no fundo,

a gente gostaria

de ver nossos problemas

resolvidos por decreto



a partir desta data,

aquela mágoa sem remédio

é considerada nula

e sobre ela - silêncio perpétuo



extinto por lei todo o remorso,

maldito seja quem olhar pra trás,

lá pra trás não há nada,

e nada mais



mas problemas não se resolvem,

problemas têm família grande,

e aos domingos

saem todos a passear

o problema, sua senhora

e outros pequenos probleminhas."
                                Paulo Leminski

Paulo Leminski, Alice Ruiz e Caetano Veloso

sábado, 11 de abril de 2015

Por dentro ou por fora - Paulo Leminski

Verde, lilás e amarelo - Parque da Água Branca                                                                                                              Foto: Vilma Gama



"Eu"


"Eu

quando olho nos olhos

sei quando uma pessoa

está por dentro 

ou está por fora  quem está por fora

não segura

um olhar que demora de dentro de meu centro

este poema me olha."

                                                        Paulo Leminski

sexta-feira, 10 de abril de 2015

A vida é urgente ensina Mário Quintana


"Poema Transitório"

(...) é preciso partir

é preciso chegar

é preciso partir é preciso chegar... Ah, como esta vida é 

urgente!


...no entanto

eu gostava mesmo era de partir...

e - até hoje - quando acaso embarco

para alguma parte

acomodo-me no meu lugar

fecho os olhos e sonho:

viajar, viajar

mas para parte nenhuma...

viajar indefinidamente...

com uma nave espacial perdida entre as estrelas."

                                                               Mário Quintana

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Definição de poesia - Federico Garcia Lorca

Rosa na rua de casa - 29.12.2014                                                                                        Foto: Vilma Gama



"A poesia é a união de duas palavras que nunca se supôs

que se pudessem juntar e que formam uma espécie de

mistério."


                                                       Federico Garcia Lorca