segunda-feira, 8 de junho de 2015

José - Carlos Drummond de Andrade

                                                                                                                                                                                     Foto: Vilma Gama

"José"



"E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José?

e agora, Você?

Você que é sem nome,

que zomba dos outros,

Você que faz versos,

que ama, protesta?

E agora, José?



Está sem mulher,

está sem discurso,

está sem carinho,

já não pode beber,

já não pode fumar,

cuspir, já não pode,

a noite esfriou,

o dia não veio,

o bonde não veio,

o riso não veio,

não veio a utopia

e tudo acabou

e tudo fugiu

e tudo mofou,

e agora, José?



E agora, José?

sua doce palavra,

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio, - e agora?



Com a chave na mão

quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Minas,

Minas, não há mais.

José, e agora?



Se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse,

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você cansasse,

se você morresse...

Mas você não morre

você é duro, José!



Sozinho no escuro

qual bicho-do-mato,

sem teogonia,

sem parede nua

para se encostar,

sem cavalo preto

que fuja a galope,

você marcha José!

José, para onde?"





domingo, 7 de junho de 2015

Tempo de travessia - Fernando Pessoa



"Tempo de travessia"


"Há um tempo em que é preciso

abandonar as roupas usadas, 

que já não tem a forma de nosso corpo,


e esquecer os nossos caminhos,

que nos levam sempre aos mesmos lugares.

É o tempo da travessia:

e, se não ousarmos fazê-la, 

teremos ficado, para sempre,

à margem de nós mesmos."


Fernando Pessoa




O que vem depois de sábado Paulo Leminski?

Prainha, Praia Grande e horizonte - Farol de Santa Marta - SC                                                                                      Foto: Vilma Gama

"Você nunca vai saber o que vem depois de sábado,

quem sabe um século muito mais lindo e mais sábio,

quem sabe apenas mais um domingo."

Paulo Leminski


sábado, 6 de junho de 2015

Aniversário de oito meses do blog - O Tempo - Mário Quintana


"O Tempo"


"A vida é o dever que trouxemos para fazer em casa.

Quando se vê, já são seis horas!

Quando se vê, já é sexta-feira!

Quando se vê, já é Natal...

Quando se vê, já terminou o ano...

Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.

Quando se vê passaram 50 anos!

Agora é tarde demais para ser reprovado...

Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem

 olhava o relógio.

Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a 

casca dourada e inútil das horas...

Seguraria o amor que esta à minha frente e diria que eu o 

amo...

E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à   

falta de tempo.

Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser 

feliz.

A única falta que terá, será a desse tempo que, 

infelizmente, nunca mais voltará."


Mário Quintana



quarta-feira, 3 de junho de 2015

Vazio

                                                                                                                                                                                                   Van Gogh

"Vazio agudo

ando meio

cheio de tudo."


Paulo Leminski

terça-feira, 2 de junho de 2015

Matéria-prima do amor - Paulo Leminski

                                                                                                                                     Foto: Vilma Gama

"Amor, então,

também, acaba?

Não, que eu saiba.

O que eu sei

é que se transforma

num matéria-prima

que a vida se encarrega

de transformar em raiva.

Ou em rima."


segunda-feira, 1 de junho de 2015

Parada cardíaca - Paulo Leminski


"Parada cardíaca"


"Essa minha secura

essa falta de sentimento

não tem ninguém que segure,

vem de dentro.

Vem da zona escura

donde vem o que sinto.

Sinto muito,

sentir é muito lento."


Paulo Leminski