Espaço para reflexão, comunicação e ação. Textos poéticos e em prosa serão alvos principais. Música, cinema, teatro e jornalismo também terão seus lugares assegurados. Como diz Manoel de Barros: "Pelos meus textos sou mudado mais do que pelo meu existir".
quinta-feira, 30 de junho de 2016
quarta-feira, 15 de junho de 2016
A alma é uma borboleta - Rubem Alves
"A alma é uma borboleta...
Há um instante em que
uma voz nos diz
que chegou o momento
de uma grande
metamorfose."
Rubem Alves
domingo, 29 de maio de 2016
Tarde de maio - Carlos Drummond de Andrade
Como esses primitivos que carregam por toda parte o
maxilar inferior de seus mortos,
assim te levo comigo, tarde de maio,
quando, ao rubor dos incêndios que consumiam a terra,
outra chama, não perceptível, tão mais devastadora,
surdamente lavrava sob meus traços cômicos,
e uma a uma, disjecta membra, deixava ainda palpitantes
e condenadas, no solo ardente, porções de minh'alma
nunca antes nem nunca mais aferidas em sua nobreza
sem fruto.
Mas os primitivos imploram à relíquia saúde e chuva,
colheita, fim do inimigo, não sei que portentos.
Eu nada peço a ti, tarde de maio,
senão que continues, no tempo e fora dele, irreversível,
sinal de derrota que se vai consumindo a ponto de
converter-se em sinal de beleza no rosto de alguém
que, precisamente, volve o rosto e passa...
Outono é a estação em que ocorrem tais crises,
e em maio, tantas vezes, morremos.
Para renascer, eu sei, numa fictícia primavera,
já então espectrais sob o aveludado da casca,
trazendo na sombra a aderência das resinas fúnebres
com que nos ungiram, e nas vestes a poeira do carro
fúnebre, tarde de maio, em que desaparecemos,
sem que ninguém, o amor inclusive, pusesse reparo.
E os que o vissem não saberiam dizer: se era um préstito
lutuoso, arrastado, poeirento, ou um desfile carnavalesco.
Nem houve testemunha.
Nunca há testemunhas. Há desatentos. Curiosos, muitos.
Quem reconhece o drama, quando se precipita, sem
máscara?
Se morro de amor, todos o ignoram
e negam. O próprio amor se desconhece e maltrata.
O próprio amor se esconde, ao jeito dos bichos caçados;
não está certo de ser amor, há tanto lavou a memória
das impurezas de barro e folha em que repousava. E resta,
perdida no ar, por que melhor se conserve,
uma particular tristeza, a imprimir seu selo nas nuvens."
Um abraço para Manoel - Mia Couto
Fevereiro de 2008 (Foto: Jonne Roriz / Estadão Conteúdo/Arquivo) |
"Um abraço para Manoel"
"Dizem que entre nós
há oceanos e terras com peso de distância.
Talvez. Quem sabe de certezas não é o poeta.
O mundo que é nosso
é sempre tão pequeno e tão infindo
que só cabe em olhar de menino.
Contra essa distância
tu me deste uma sabedora desgeografia
e engravidando palavra africana
tornei-me tão vizinho
que ganhei intimidades
com a barriga do teu chão brasileiro.
E é sempre o mesmo chão,
a mesma poeira nos versos,
a mesma peneira separando os grãos,
a mesma infância nos devolvendo a palavra
a mesma palavra devolvendo a infância.
E assim,
sem lonjura,
na mesma água
riscaremos a palavra
que incendeia a nuvem."
sábado, 28 de maio de 2016
Poema inédito de Manoel de Barros
Ele é considerado o maior poeta do século XX por nada
mais, nada menos, que Carlos Drummond de Andrade e
em 19 de dezembro será comemorado o centenário de seu
nascimento.
A escola de samba Império Serrano o homenageará com o
enredo "Meu quintal é maior que o mundo", o título é
inspirado em um verso do poema "O apanhador de
desperdícios".
E agora um poema inédito para iniciarmos as comemorações poéticas do em breve centenário Manoel de Barros
"Fôssemos merecidos de água, de chão, de rãs, de árvores,
de brisas e de graças!
Nossas palavras não tinham lugar marcado. A gente
andava atoamente em nossas origens.
Só as pedras sabiam o formato do silêncio. A gente não
queria significar, mas só cantar.
A gente só queria demais era mudar as feições da natureza.
Tipo assim: Hoje eu vi um lagarto lamber as pernas da
manhã. Ou tipo assim: Nós vimos uma formiga frondosa
ajoelhada na pedra.
Aliás, depois de grandes a gente viu que o cu de uma
formiga é mais importante para a humanidade do que a
Bomba Atômica."
Manoel de Barros*
*Revista Cult Leia poema inédito de Manoel de Barros - Revista Cult: Poeta matogrossense, de 96 anos de idade, foi condecorado em Lisboa com o Prêmio Casa da América Latina
sexta-feira, 20 de maio de 2016
Receita da escritora Viviane Mosé para lavar palavra suja
Horta - Praça das Corujas Foto: Vilma Gama |
Carinho e atenção com a palavra
democracia,
pois precisamos, urgente, resgatar seu significado.
Segundo o grande filósofo chinês Confúcio, quando as
palavras perdem seu significado, pessoas perdem sua
liberdade.
Segundo o grande filósofo chinês Confúcio, quando as
palavras perdem seu significado, pessoas perdem sua
liberdade.
A utopia é que esse seja um resgate em massa,
que atinja
o maior número de pessoas possível.
A escritora Viviane Mosé nos inspira com sua receita de
como lavar palavra suja.
terça-feira, 17 de maio de 2016
O Direito ao Delírio - Eduardo Galeano (1940/2015)
O escritor uruguaio Eduardo Galeano nos brinda
poeticamente com El Derecho al Delirio.
Encantadoramente fala da utopia e de sua utilidade.
Na sequência celebra o nosso direito ao delírio. O texto é
atual e pertinente ao momento em que vivemos em nosso
país.
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