quarta-feira, 13 de julho de 2016

Há quem tenha medo que o medo acabe - Mia Couto




"Há quem tenha medo que o medo acabe"... Mia Couto fala 

sobre o medo e cita Eduardo Galeano.


quinta-feira, 30 de junho de 2016

O MEDO AMEAÇA - por EDUARDO GALEANO


                                                                                                                                                                                      Foto: Vilma Gama

"O medo ameaça

se você ama, terá Aids

se fuma, terá câncer

se respira, terá contaminação

se bebe, terá acidentes

se come, terá colesterol

se fala, terá desemprego

se caminha, terá violência

se pensa, terá angústia

se duvida, terá loucura

se sente, terá solidão"



Eduardo Galeano

quarta-feira, 15 de junho de 2016

A alma é uma borboleta - Rubem Alves



"A alma é uma borboleta...

Há um instante em que

uma voz nos diz

que chegou o momento

de uma grande

metamorfose."


Rubem Alves

domingo, 29 de maio de 2016

Tarde de maio - Carlos Drummond de Andrade

Pavão no Parque da Água Branca                                                                                                                          Foto: Vilma Gama

Tarde de Maio



Como esses primitivos que carregam por toda parte o

maxilar inferior de seus mortos,

assim te levo comigo, tarde de maio,

quando, ao rubor dos incêndios que consumiam a terra,

outra chama, não perceptível, tão mais devastadora,

surdamente lavrava sob meus traços cômicos,

e uma a uma, disjecta membra, deixava ainda palpitantes

e condenadas, no solo ardente, porções de minh'alma

nunca antes nem nunca mais aferidas em sua nobreza

sem fruto.



Mas os primitivos imploram à relíquia saúde e chuva,

colheita, fim do inimigo, não sei que portentos.

Eu nada peço a ti, tarde de maio,



senão que continues, no tempo e fora dele, irreversível,

sinal de derrota que se vai consumindo a ponto de

converter-se em sinal de beleza no rosto de alguém

que, precisamente, volve o rosto e passa...

Outono é a estação em que ocorrem tais crises,

e em maio, tantas vezes, morremos.




Para renascer, eu sei, numa fictícia primavera,

já então espectrais sob o aveludado da casca,


trazendo na sombra a aderência das resinas fúnebres

com que nos ungiram, e nas vestes a poeira do carro

fúnebre, tarde de maio, em que desaparecemos,

sem que ninguém, o amor inclusive, pusesse reparo.


E os que o vissem não saberiam dizer: se era um préstito

lutuoso, arrastado, poeirento, ou um desfile carnavalesco.

Nem houve testemunha.


Nunca há testemunhas. Há desatentos. Curiosos, muitos.

Quem reconhece o drama, quando se precipita, sem 

máscara? 

Se morro de amor, todos o ignoram

e negam. O próprio amor se desconhece e maltrata.

O próprio amor se esconde, ao jeito dos bichos caçados;

não está certo de ser amor, há tanto lavou a memória

das impurezas de barro e folha em que repousava. E resta,

perdida no ar, por que melhor se conserve,

uma particular tristeza, a imprimir seu selo nas nuvens."


Carlos Drummond de Andrade 


Um abraço para Manoel - Mia Couto



                                                                                              Fevereiro de 2008 (Foto: Jonne Roriz / Estadão Conteúdo/Arquivo)



"Um abraço para Manoel"


"Dizem que entre nós

há oceanos e terras com peso de distância.

Talvez. Quem sabe de certezas não é o poeta.

O mundo que é nosso

é sempre tão pequeno e tão infindo

que só cabe em olhar de menino.


Contra essa distância

tu me deste uma sabedora desgeografia

e engravidando palavra africana

tornei-me tão vizinho

que ganhei intimidades

com a barriga do teu chão brasileiro.


E é sempre o mesmo chão,

a mesma poeira nos versos,

a mesma peneira separando os grãos,

a mesma infância nos devolvendo a palavra

a mesma palavra devolvendo a infância.


E assim,

sem lonjura,

na mesma água

riscaremos a palavra

que incendeia a nuvem."


Mia Couto
Professor, biólogo, poeta e escritor moçambicano

sábado, 28 de maio de 2016

Poema inédito de Manoel de Barros




Ele é considerado o maior poeta do século XX por nada

 mais, nada menos, que Carlos Drummond de Andrade e 

em 19 de dezembro será comemorado o centenário de seu 

nascimento. 

A escola de samba Império Serrano o homenageará com o

 enredo "Meu quintal é maior que o mundo", o título é 

inspirado em um verso do poema "O apanhador de 

desperdícios".



E agora um poema inédito para iniciarmos as comemorações poéticas do em breve centenário Manoel de Barros


"Fôssemos merecidos de água, de chão, de rãs, de árvores,

 de brisas e de graças!

Nossas palavras não tinham lugar marcado. A gente 

andava atoamente em nossas origens.

Só as pedras sabiam o formato do silêncio. A gente não 

queria significar, mas só cantar.

A gente só queria demais era mudar as feições da natureza. 

Tipo assim: Hoje eu vi um lagarto lamber as pernas da 

manhã. Ou tipo assim: Nós vimos uma formiga frondosa 

ajoelhada na pedra.

Aliás, depois de grandes a gente viu que o cu de uma 

formiga é mais importante para a humanidade do que a 

Bomba Atômica."


Manoel de Barros*

*Revista Cult Leia poema inédito de Manoel de Barros - Revista Cult: Poeta matogrossense, de 96 anos de idade, foi condecorado em Lisboa com o Prêmio Casa da América Latina

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Receita da escritora Viviane Mosé para lavar palavra suja

Horta - Praça das Corujas                                                                                          Foto: Vilma Gama

Carinho e atenção com a palavra

democracia,

pois precisamos, urgente, resgatar seu significado

Segundo o grande filósofo chinês Confúcio, quando as

 palavras perdem seu significado,  pessoas perdem sua

 liberdade.

A utopia é que esse seja um resgate  em massa, 

que atinja

 o maior número de pessoas possível. 

A escritora Viviane Mosé nos inspira com sua receita de 

como lavar palavra suja.