segunda-feira, 30 de março de 2015

Chegamos de muito longe - sensibilidade - A poesia de Mário Quintana

A caminho da Praia do Cardoso - Farol de Santa Marta - SC                                                                                Foto: Vilma Gama



"A verdadeira arte de viajar"


"A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,

Como se estivessem abertos diante de nós todos os 

caminhos do mundo.

Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam

 ali...

Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração 

cantando!"


                              Mário Quintana








domingo, 29 de março de 2015

Um rio nunca é o mesmo, ou a impermanência da vida - Mário Quintana

Cachoeira do Escorrega em Maromba - Visconde de Mauá - RJ                                                                                                        

"Canção do dia de sempre"


"Tão bom viver dia-a-dia...

A vida assim, jamais cansa...



Viver tão só de momentos

Como estas nuvens no céu...



É só ganhar, toda a vida,

Inexperiência... esperança...



E a rosa louca dos ventos

Presa à copa do chapéu.



Nunca dês um nome a um rio:

Sempre é outro rio a passar.



Nada jamais continua,

Tudo vai recomeçar!



E sem nenhuma lembrança

Das outras vezes perdidas,

Atiro a rosa do sonho

Nas tuas mãos distraídas..."



                             Mário Quintana






sábado, 28 de março de 2015

Poeminha do Contra - Mário Quintana


Visitantes muito bem-vindos na janela de casa                                                                                                                Foto: Vilma Gama



"Poeminha do Contra"


"Todos estes que aí estão

Atravancando o meu caminho,

Eles passarão.

Eu passarinho!"


Mário Quintana


                                                                                                                                                                                       Mário Quintana     

sexta-feira, 27 de março de 2015

Sonho - por Mário Quintana



Flor na rua de casa                                                                                                                                                      Foto: Vilma Gama

"Sonho*"

"Um poema em que não se notasse nem a suspeita ênfase da simplicidade e que, ao lê-lo, nem sentirias que ele já estivesse escrito, mas que fosse brotando, no mesmo instante, de teu próprio coração."

Mário Quintana






* Poema publicado originalmente no livro Da preguiça como método de trabalho, retirado de Poesia Completa – Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005, p. 704)

terça-feira, 24 de março de 2015

Tempo - compositor de destinos


                                                                                                                                                                  Praia do Rosa - Imbituba - SC


Aprendi que muitas vezes vivemos no tempo, quando viajamos de metrô, ônibus, carro, avião, barco etc nos deslocamos. Não podemos dizer que estamos em São Paulo ou quase chegando ao nosso destino. Estamos em movimento, estamos no tempo. Não estou em um lugar definido, estou no quilômetro 10, depois de algum tempo estou no quilômetro 11 da estrada tal. Estou no tempo.

Dá um tempo, faz um tempo. Não tenho tempo. Quanto tempo. Naquele tempo. O tempo não pára. A poesia de Caetano reverencia o tempo.


"Oração Ao Tempo"



"És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho

Tempo, tempo, tempo, tempo


Vou te fazer um pedido


Tempo, tempo, tempo, tempo


Compositor de destinos

Tambor de todos os ritmos


Tempo, tempo, tempo, tempo


Entro num acordo contigo


Tempo, tempo, tempo, tempo


Por seres tão inventivo


E pareceres contínuo

Tempo, tempo, tempo, tempo


És um dos deuses mais lindos


Tempo, tempo, tempo, tempo


Que sejas ainda mais vivo


No som do meu estribilho

Tempo, tempo, tempo, tempo


Ouve bem o que te digo


Tempo, tempo, tempo, tempo


Peço-te o prazer legítimo


E o movimento preciso

Tempo, tempo, tempo, tempo


Quando o tempo for propício


Tempo, tempo, tempo, tempo


De modo que o meu espírito


Ganhe um brilho definido

Tempo, tempo, tempo, tempo


E eu espalhe benefícios


Tempo, tempo, tempo, tempo


O que usaremos pra isso


Fica guardado em sigilo

Tempo, tempo, tempo, tempo


Apenas contigo e migo


Tempo, tempo, tempo, tempo


E quando eu tiver saído


Para fora do teu círculo

Tempo, tempo, tempo, tempo


Não serei nem terás sido


Tempo, tempo, tempo, tempo


Ainda assim acredito

Ser possível reunirmo-nos


Tempo, tempo, tempo, tempo


Num outro nível de vínculo

Tempo, tempo, tempo, tempo

Portanto peço-te aquilo


E te ofereço elogios

Tempo, tempo, tempo, tempo


Nas rimas do meu estilo


Tempo, tempo, tempo, tempo."




           Caetano Veloso



segunda-feira, 23 de março de 2015

Basta-me um pequeno gesto - Cecília Meireles

                                                                                                                                                                                        Foto: Vilma Gama



Simplesmente Cecília Meireles, sentimento e poesia.


"Timidez"


"Basta-me um pequeno gesto,

feito de longe e de leve,

para que venhas comigo

e eu para sempre te leve…

Uma palavra caída

das montanhas dos instantes

desmancha todos os mares

e une as terras mais distantes…

Para que tu me adivinhes,

entre os ventos taciturnos,

apago meus pensamentos,

ponho vestidos noturnos,

E, enquanto não me descobres,

os mundos vão navegando

nos ares certos do tempo,

até não se sabe quando…

- mas só esse eu não farei.

- palavra que não direi.

- que amargamente inventei.

e um dia me acabarei."


                                                                  Cecília Meireles                      


domingo, 22 de março de 2015

Dias nacional e mundial da poesia - Castro Alves

                                                                               Foto: Ans Vink
                                                                              Foto: Ans Vink




Nos dias 14 e 21 de março comemorou-se, respectivamente,  o Dia Nacional e o Dia Mundial da Poesia.
A data nacional foi escolhida para homenagear o poeta Castro Alves, que nasceu em Muritiba-BA em 14.3.1847 e que deixou o planeta muito jovem, aos 24 anos, em 6.7.1871.
A data mundial foi criada na XXX Conferência Geral da Unesco em 16.11.1999, ocasião em que foi legado ao dia 21 de março essa importante tarefa de sublinhar a existência da poesia mundialmente. O propósito deste dia é promover a leitura, a escrita, publicação e ensino da poesia em todo o mundo.




"As três irmãs do poeta"


"É noite! as sombras correm nebulosas.
Vão três pálidas virgens silenciosas
Através da procela irrequieta.
Vão três pálidas virgens... vão sombrias
Rindo colar num beijo as bocas frias...

Na fronte cismadora do Poeta:
'Saúde, irmão! Eu sou a Indiferença.
Sou eu quem te sepulta a ideia imensa,
Quem no teu nome a escuridão projeta...
Fui eu que te vesti do meu sudário...
Que vais fazer tão triste e solitário?...'

-'Eu lutarei!' - responde-lhe o Poeta.
'Saúde, meu irmão! Eu sou a Fome.
Sou eu quem o teu negro pão consome...
O teu mísero pão, mísero atleta!
Hoje, amanhã, depois... depois (qu'importa?)
Virei sempre sentar-me à tua porta...'

-'Eu sofrerei' - responde-lhe o Poeta.
'Saúde, meu irmão! Eu sou a Morte.
Suspende em meio o hino augusto e forte.
Marquei-te a fronte, mísero profeta!
Volve ao nada! Não sentes neste enleio
Teu cântico gelar-se no meu seio?!
-'Eu cantarei no céu' - diz-lhe o Poeta!"


                                                         Castro Alves

quarta-feira, 18 de março de 2015

Motivo - Cecília Meireles e Fagner


Praça do condomínio                                                                                                                                                  Foto: Vilma Gama
Há muitos motivos para celebrar Cecília Meireles. 
Ela foi poetisa, professora, pedagoga e jornalista. 
A maioria de suas obras expressa estados de ânimo, predominam os sentimentos de perda amorosa e solidão. Uma das marcas do lirismo de Cecília Meireles é a musicalidade de seus versos. Alguns poemas como "Canteiros"' e "Motivo" foram musicados por Fagner. 
Comprovando a tese de musicalidade, no vídeo abaixo Fagner canta, ao vivo, "Paralelas", do amigo Belchior, e "Motivo", de Cecíla Meireles.


"Motivo"


"Eu canto porque o instante existe 
e a minha vida está completa. 
Não sou alegre nem sou triste: 
sou poeta. 


 Irmão das coisas fugidias, 
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias 
no vento. 

 Se desmorono ou se edifico, 
se permaneço ou me desfaço,
 - não sei, não sei. Não sei se fico 
ou passo. 


 Sei que canto. E a canção é tudo. 
Tem sangue eterno a asa ritmada. 
E um dia sei que estarei mudo: 
- mais nada."

                                  Cecília Meireles


Cecília Meireles

domingo, 15 de março de 2015

Cora Coralina nos aponta o caminho das pedras

Céu do dia 29 de dezembro de 2014                                                                                                                          Foto: Vilma Gama

Este espaço é de Cora Coralina.


"Aninha e suas pedras"



"Não te deixes destruir...

Ajuntando novas pedras

e construindo novos poemas.

Recria tua via, sempre, sempre.

Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.

Faz de tua vida mesquinha

um poema.

E viverás no coração dos jovens

e na memória das gerações que hão de vir.

Esta fonte é para uso de todos os sedentos.

Toma a tua parte.

Vem a estas páginas

e não entraves seu uso

aos que têm sede."


                             Cora Coralina

sábado, 14 de março de 2015

Belo planeta - música de Fagner e poesia de Florbela Espanca


Linda praia em Fernando de Noronha                                                                                                                          Foto: Tuca Noronha
Fagner no disco "Traduzir-se" apresenta o poema musicado "Fanatismo", de Florbela Espanca.
A poetisa portuguesa, nascida aos 8 de dezembro de 1894, despediu-se do planeta, aos 36 anos, em 8 de dezembro de 1930.


                                     "Fanatismo"



"Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida

Meus olhos andam cegos de te ver!

Não és sequer a razão do meu viver,

Pois que tu és já toda a minha vida!



Não vejo nada assim enlouquecida...

Passo no mundo, meu Amor, a ler

No misterioso livro do teu ser

A mesma história, tantas vezes lida!



Tudo no mundo é frágil, tudo passa...

Quando me dizem isto, toda a graça

Duma boca divina, fala em mim!



E, olhos postos em ti, digo de rastros:

Podem voar mundos, morrer astros,

Que tudo és como um deus: princípio e fim!"

Florbela Espanca



Florbela Espanca
                                                     



quinta-feira, 12 de março de 2015

Fragmento da poesia de Fernando Pessoa

Morro do Farol de Santa Marta - SC                                                                                                                               Foto: Vilma Gama


Posso me tornar uma pedra, uma flor ou uma ideia abstrata, eis a proposta lançada por Fernando Pessoa.




"A passagem das horas"



"Sentir tudo de todas as maneiras,

Viver tudo de todos os lados,

Ser a mesma cousa de todos os modos possíveis ao 

mesmo tempo,

Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos

Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo.



Eu quero ser sempre aquilo com quem simpatizo,

Eu torno-me sempre, mais tarde ou mais cedo,

Aquilo com quem simpatizo, seja uma pedra ou uma ânsia,

Seja uma flor ou uma ideia abstrata,

Seja uma multidão ou um modo de compreender Deus.

E eu simpatizo com tudo, vivo de tudo em tudo."

                                                     Fernando Pessoa

Farol de Santa Marta - SC                                                                                                                                          Foto: Vilma Gama


terça-feira, 10 de março de 2015

Renovar o mundo usando borboletas - Manoel de Barros

O poeta que se dizia "caçador de achadouros da infância", afirmou que poesia não é para compreender, mas para incorporar. "Entender é parede: procure ser árvore".
O videopoema abaixo é uma declaração de amor às palavras.





Manoel de Barros

segunda-feira, 9 de março de 2015

O medo segundo Manoel de Barros

Prainha e Praia Grande - Farol de Santa Marta - SC                                                                                               Foto: Vilma Gama


O medo é um sentimento humano. Ele nos acompanha em nossas vidas em muitos momentos. O que fazer se não podemos lhe dispensar a companhia. Eu recorro à poesia...



"Eu sou o medo da lucidez.

Choveu na palavra onde eu estava.

Eu via a natureza como quem a veste.

Eu me fechava com espumas.

Formigas vesúvias dormiam por baixo de trampas.

Peguei umas ideias com as mãos - como a peixes.

Nem era muito que eu me arrumasse por versos.

Aquele arame do horizonte que separava o morro do céu

 estava rubro.

Um rengo estacionou entre duas frases.

Um descor

Quase uma ilação do branco.

Tinha um palor atormentado a hora.

      O pato dejetava liquidamente ali." 

                                                                                                                             Manoel de Barros