sábado, 25 de julho de 2015

Dia do Escritor - Literatura e imortalidade - Fernando Pessoa


Certa vez o escritor foi indagado sobre o que pensava ele dos  escritores do momento, seus contemporâneos, prosadores,  
poetas e dramaturgos.




Fernando Pessoa - Citar é ser injusto.Enumerar é esquecer. 



Não quero esquecer ninguém de quem não lembre. 



Confio ao silêncio a injustiça. 



A ânsia de ser completo leva ao desespero de o não poder 



ser. Não citarei ninguém. Julgue-se citado quem se julgue 



com direito a sê-lo. Ressalvo assim todos. Lavo as mãos, 



como Pilatos, lavo-as, porém, inutilmente porque é sempre



inutilmente que se faz um gesto simplificador. Que sei eu 



do presente, salvo que ele é já o futuro? Quem são os 


meus contemporâneos?  Só o futuro o poderá dizer.


Coexiste comigo muita gente que vive comigo apenas



porque chora comigo. Esses são apenas os meus 



conterrâneos no tempo; e eu não quero ser bairrista em



matéria de imortalidade. Na dúvida, repito, não citarei 



ninguém." *





Fernando Pessoa 

em "Portugal entre passado e 
futuro"

* Do livro: "Citações e pensamentos Fernando Pessoa - Organização: Paulo Neves da Silva

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