quarta-feira, 22 de abril de 2015

Quem dera eu achasse um jeito de fazer tudo perfeito - Paulo Leminski

                                          

Sujeito indireto


Quem dera eu achasse um jeito

de fazer tudo perfeito,

feito a coisa fosse o projeto

e tudo já nascesse satisfeito.

Quem dera eu visse o outro lado,

o lado de lá, lado meio,

onde o triângulo é quadrado

e o torto parece direito.

Quem dera um ângulo reto.

Já começo a ficar cheio

de não saber quando eu falto,

de ser, mim, indireto sujeito."

Paulo Leminski

Sem compromisso

Baleia-de-Bryde almoça um cardume de sardinhas  na Península da Baixa Califòrnia - México                                             Foto: Doug Perrine
Sardinha 

excesso de espinha

Então por que comê-la desta vez?

Bastante ômega três.

                                      Vilma Gama



terça-feira, 21 de abril de 2015

Ó 21 de abril, que intrigas de ouro e sonho, houve em tua formação? - Cecília Meireles



"Romanceiro da Inconfidência" (trecho) 

"Fala inicial"

"Não posso mover meus passos

Por esse atroz labirinto

De esquecimento e cegueira

Em que amores e ódios vão:

- pois sinto  bater os sinos,

percebo o roçar das rezas,

vejo o arrepio da morte,

à voz da condenação;



                                                A pintora  Cecília Meireles

- avisto a negra masmorra

e a sombra do carcereiro

que transita sobre angústias,

com chaves no coração;

- descubro as altas madeiras

do excessivo cadafalso

e, por muros e janelas,

o pasmo da multidão.

Batem patas de cavalos.

Suam soldados imóveis.

Na frente dos oratórios,

que vale mais a oração?

Vale a voz do Brigadeiro

sobre o povo e sobre a tropa,

louvando a augusta Rainha,

- já louca e fora do trono -

na sua Proclamação.


             A poetisa Cecília Meireles

Ó meio-dia confuso,

ó vinte-e-um de abril sinistro,

que intrigas de ouro e de sonho

houve em tua formação?

Quem condena, julga e pune?

Que é culpado e inocente?

Na mesma cova do tempo

Cai o castigo e o perdão.

Morre a tinta das sentenças

e o sangue dos enforcados...

- liras, espadas e cruzes

pura cinza agora são.

Na mesma cova, as palavras,

e o secreto pensamento,

as coroas e os machados,

mentiras e verdade estão.

Aqui, além, pelo mundo,

ossos, nomes, letras, poeira...


                                     A escritora Cecília Meireles

Onde, os rostos? onde, as almas?

Nem os herdeiros recordam

rastro nenhum pelo chão.

Ó grandes muros sem eco,

presídios de sal e treva

onde os homens padeceram

sua vasta solidão...


                                           A professora Cecília Meireles

Não choraremos o que houve,

nem os que chorar queremos:

contra rocas de ignorância

rebenta nossa aflição.

Choraremos esse mistério,

esse esquema sobre-humano,

a força, o jogo, o acidente

da indizível conjunção

que ordena vidas e mundos

em pólos inexoráveis

de ruína e de exaltação.

Ó silenciosas vertentes

por onde se precipitam

inexplicáveis torrentes,

por eterna escuridão!
                                                                    Foto: Vilma Gama

... "Romance XXIV ou Da bandeira da Inconfidência" (trecho)

Cavalo de La Fayette

saltando vastas fronteiras!

Ó vitórias, festas, flores

das lutas da Independência!


                    A jornalista Cecília Meireles

Liberdade - essa palavra

que o sonho humano alimenta:

que não há ninguém que explique,

e ninguém que não entenda!


E a vizinhança não dorme:

murmura, imagina, inventa.

Não fica bandeira escrita,

mas fica escrita a sentença."

                                            Cecília Meireles

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Aprendemos com os nossos erros - Paulo Leminski




"nunca cometo o mesmo erro duas vezes

já cometo duas

três

quatro

cinco

seis

até esse erro aprender que só o erro tem vez."


domingo, 19 de abril de 2015

Eduardo Galeano - um olho no microscópio e outro no telescópio


Eduardo Galeano, escritor uruguaio, deixou o planeta na última segunda-feira (13), aos 74 anos. 
Celebremos a sua presença nessas mais de sete décadas em que esteve por aqui.
Abaixo o vídeo da entrevista concedida por Galeano a Eric Nepomuceno no programa Sangue Latino. 
Ele fala, encantadoramente, sobre inúmeros temas. 
Destaquei o que ele disse sobre América Latina, crianças, utopia e função da literatura e da arte.
Vale cada um dos 23 minutos e 23 segundos de duração.


"América Latina é a pátria das diversidades humanas.

O mundo é um tecido de encontros e desencontros, de 

perdas e ganhos e o melhor dos meus dias é aquele que 

ainda não vivi. Somos muitíssimo mais do que nos dizem

que somos."




Função da literatura e da arte.

Um jornalista disse a Galeano em uma entrevista: "Lendo 

seus livros sinto que você tem um olho no microscópio

e outro no telescópio".

"Achei uma boa definição das minhas intenções, do que eu 

gostaria de fazer escrevendo, de ser capaz de olhar o que 

não se olha, mas que merece ser olhado, as pequenas 

coisas da gente anônima, esse micro-mundo onde eu 

acredito que se alimenta de verdade a grandeza do 

universo e ao mesmo tempo ser capaz de contemplar o 

universo, através do buraco da fechadura, a partir das 

pequenas coisas ser capaz de olhar as grandes, os 

grandes mistérios da vida, o mistério da dor humana, mas 

também o mistério da persistência humana nesta mania, às 

vezes inexplicável de lutar por um mundo que seja a casa 

de todos e não a casa de pouquinhos e o inferno da 

maioria."




"A capacidade de beleza, a capacidade de 

formosura da gente mais simples, às vezes da gente mais 

singela, que tem uma insólita capacidade de formosura, 

que, às vezes, se manifesta em uma canção, em um grafite, 

em uma conversa qualquer, a que as crianças têm, o que 

acontece é que depois nós, adultos, nos ocupamos em 

transformá-las em nós mesmos e aí destruímos a vida 

delas." 
Victor Luís - Farol de Santa Marta - janeiro de 2015                                                                                              Foto: Vilma Gama

"As crianças são todas pagãs. Em uma de minhas 

caminhadas cruzei com uma menina que devia ter uns dois 

anos, que vinha brincando em sentido contrário e ela vinha 

cumprimentando a grama, a graminha, as plantinhas, 'bom 

dia graminha', dizia: 'bom dia graminha', ou seja, nessa 

idade, somos todos pagãos e, nessa idade, somos todos 

poetas, depois o mundo se ocupa de apequenar nossa 

alma, isso que chamamos crescimento, desenvolvimento."


Victor Luís curtindo o aniversário do papai em 18.1.15 - Farol de Santa Marta                                                 Foto: Vilma Gama


Numa boa - Victor Luís no Farol de Santa Marta - 14 de janeiro de 2015                                                                      Foto: Vilma Gama


"Me solto do abraço, saio na rua

no céu, já clareando, se desenha, finita, a lua

a lua tem duas noites de idade

eu, uma."

Eduardo Galeano


Dia 6 de janeiro de 2015 -Praia do Cardoso iluminada pelo pôr-do-sol                                                               Foto: Vilma Gama
Utopia

"Ainda existe espaço para a utopia no mundo de hoje?" 

perguntou Eric Nepomuceno.

"Sim, no sentido que deu a ela Fernando Birri, em uma 

frase que, injustamente, se atribui a mim.

Em um dos meus livros eu citei uma frase dele, dizendo 

que era dele e as pessoas atribuem ela a mim, 

pobre Fernando, mas é dele. Estávamos juntos em 

Cartagena das Índias, a belíssima cidade colombiana,

e fizemos uma palestra juntos na universidade e um 

estudante perguntou a ele: "Para que serve a utopia?"

E ele respondeu da melhor forma, eu nunca escutei uma 

resposta melhor. 

Ele disse que se fazia essa pergunta todos os dias, para 

que servia a utopia?

Se é que a utopia servia para alguma coisa..."


Quase pôr-do-sol no Farol de Santa Marta - janeiro de 2015                                                                               Foto: Vilma Gama
"Ele disse: 'vejam bem, a utopia está no horizonte

e se está no horizonte eu nunca vou alcançá-la

porque, se caminho dez passos, a utopia vai se distanciar 

dez passos, e se caminho vinte passos, a utopia vai se 

colocar vinte passos mais além, ou seja, que eu sei que 

jamais, nunca, vou alcançá-la.

Para que serve?

Para isso, para caminhar.'"


Confira a entrevista de Eduardo Galeano l Sangue Latino

https://youtu.be/47aFAIDierM

sábado, 18 de abril de 2015

Imagine - perfomance de John Lennon em 18.04.75





"Você pode dizer que eu sou um(a) sonhador(a), mas eu não sou o(a) único(a)."
A mensagem da música Imagine continua sendo atual. John Lennon, em sua performance há 40 anos, em 18 de abril de 1975.  

                                                         Imagine


Imagine there´s no heaven                                               Imagine não haver o paraíso

It´s easy if you try                                                               É fácil se você tentar

No hell below us                                                                Nem inferno abaixo de nós

Above us only sky                                                             Acima de nós só o céu



Imagine all the people                                                      Imagine todas as pessoas

Living for today                                                                 Vivendo o dia de hoje (presente)



Imagine there´s no countries                                           Imagine que não houvessem países

It isn´t hard to do                                                               Não é difícil imaginar                                                            

Nothing to kill or die for                                                    Nenhum motivo para matar ou morrer   

And no religion too                                                           E nenhuma religião também


Imagine all the people                                                      Imagine todas as pessoas

Living life in peace                                                            Vivendo suas vidas em paz



You may say, I´m a dreamer                                       Você pode dizer que eu sou um sonhador

But I´m not the only one                                                      Mas eu não sou o único

I hope someday you´ll join us                                   Eu espero que algum dia você se junte a  nós

And the world will be as one                                             E o mundo será como um só



Imagine no possessions                                                Imagine não haver posses

I wonder if you can                                                          Eu me pergunto se você pode

No need for greed or hunger                                         Sem necessidade de ganância ou fome

A Brotherhood of man                                                   Uma irmandade de homens



Imagine all the people                                                  Imagine todas as pessoas

Sharing all the world                                                     Partilhando todo o mundo



You may say, I'm a dreamer                               Você pode dizer que eu sou um sonhador

But I'm not the only one                                               Mas eu não sou o único

I hope someday you´ll join us                              Eu espero que algum dia você se junte a nós

And the world will live as one                              E o mundo viverá como um só

sexta-feira, 17 de abril de 2015

Apagar-me - poema de Paulo Leminski


Céu 29.12.2014 (em casa)                                                                                                                                            Foto: Vilma Gama























                                                         "Apagar-me"



                                                "Apagar-me

                                                 diluir-me

                                               desmanchar-me

                                               até que depois

                                                   de mim

                                                   de nós

                                                   de tudo

                                              não reste mais

                                                que o charme."

                                                                 Paulo Leminski