Certa vez o escritor foi indagado sobre o que pensava ele dos escritores do momento, seus contemporâneos, prosadores,
poetas e dramaturgos.
Fernando Pessoa - Citar é ser injusto.Enumerar é esquecer.
Não quero esquecer ninguém de quem não lembre.
Confio ao silêncio a injustiça.
A ânsia de ser completo leva ao desespero de o não poder
ser. Não citarei ninguém. Julgue-se citado quem se julgue
com direito a sê-lo. Ressalvo assim todos. Lavo as mãos,
como Pilatos, lavo-as, porém, inutilmente porque é sempre
inutilmente que se faz um gesto simplificador. Que sei eu
do presente, salvo que ele é já o futuro? Quem são os
meus contemporâneos? Só o futuro o poderá dizer.
Coexiste comigo muita gente que vive comigo apenas
porque chora comigo. Esses são apenas os meus
conterrâneos no tempo; e eu não quero ser bairrista em
matéria de imortalidade. Na dúvida, repito, não citarei
ninguém." *
Fernando Pessoa
em "Portugal entre passado e
futuro"
* Do livro: "Citações e pensamentos Fernando Pessoa - Organização: Paulo Neves da Silva