segunda-feira, 18 de abril de 2016

Importante cultuar o significado da palavra Democracia - Confúcio




"Quando as palavras perdem o seu 

significado,

pessoas perdem a sua liberdade."


Confúcio*




Sempre é um momento propício ao culto do significado das 

palavras. 

Somos convocados pelo Dizeres Poéticos a


 refletir.

Diante do golpe sofrido pela Democracia, após a aprovação,

 pelo Congresso Nacional, na noite de 

ontem (17 de abril), do processo de impeachment contra uma 

presidente democraticamente eleita. 

O que isso significa?

Significa que os votos de 52 

milhões de cidadãos brasileiros foram jogados 

na lata do lixo.

Isso tudo só foi possível pois o significado da palavra 

democracia foi esvaziado.


Somos presas fáceis de uma mídia escancaradamente 


panfletária, que manipula e molda o pensamento das 


pessoas desavisadas.


Ao longo de 21 anos de ditadura militar o plano de sucatear 


a escola pública foi finalizado. Hoje ela forma analfabetos 


funcionais, presas fáceis do bombardeio de ideias 


tendenciosas, vendidas como se fossem verdades 


universais 


e imparciais. 





O resgate do significado da palavra democracia é urgente!






*Confúcio é considerado o mais importante filósofo chinês. Viveu de 551 a.C. a 479 a.C.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

Vaidade

      Laguna-SC                                                                                                                                                     Foto: Américo Rodrigues

"Vaidade"


Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo ...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho ... E não sou nada! ...*


                                             Florbela Espanca


*Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"

terça-feira, 5 de abril de 2016

Mago Saramago - Caverna de Platão e as imagens - FILME JANELA DA ALMA

Primeira chuva do ano de 2016 no Parque Villa Lobos, Américo, Victor e Vilma                                                     Foto: Américo Rodrigues

José Saramago fala do processo de criação do livro Ensaio sobre a cegueira e sua visão sobre a humanidade e sobre o mundo.
Hoje estamos vivendo na Caverna de Platão, diz ele, estamos num mundo audiovisual, vendo sombras e acreditando que essas sombras são a verdade.

O cineasta Win Wenders fala sobre a necessidade que temos, desde pequenos, por segurança e conforto. 
A estrutura da história cria significado e a maioria das coisas acontecem ao nosso redor não têm sentido. Então, todos temos desejo pelo significado, diz o cineasta alemão.
O excesso de imagens que temos hoje em dia mostra que, basicamente, somos incapazes de prestar atenção.


domingo, 3 de abril de 2016

Inocência


                                                                                                                                                                        Foto: Américo Rodrigues


Inocência


"No fundo dos olhos que avistam

O caminho de tanta ironia

Quem sabe pensar um sorriso

Que sorria para si e para os deuses

Não com os dentes à mostra, imprecisos

Mas simplesmente vivo

O próprio riso divino

De tão menino seguindo sóis, luas, martírios

Tão canino sorrindo pra lua

Tímida entre nuvens desalinhadas

De tão contínuo

Caminho."


Sérgio Rocha


domingo, 22 de novembro de 2015

O menino e o rio - Manoel De Barros - CD Crianceiras


Victor Luís na Cachoeira do Paraíso - Jureia - fevereiro de 2015                                                                                  Foto: Vilma Gama

Dizeres Poéticos reverencia o poeta  Manoel de Barros.

No último dia 13 de novembro fez um ano que o poeta 

despediu-se do planeta.

Apresentamos a música O menino e o rio, que faz parte do

 espetáculo Crianceiras.

O Crianceiras, idealizado pelo músico Márcio de Camillo, 

mescla música, teatro, cinema de animação e literatura, e foi

 todo inspirado na obra de Manoel de Barros.

O objetivo de levar poesia ao público infantil foi alcançado 

com sucesso.

As crianças encantadas com o universo de Manoel de

 Barros, trazem sua poesia à tona. Poesia que vai de

 geração em geração florescendo e transformando a vida

 dos que com ela têm contato. As crianças estão contidas 

na poesia de Manoel de Barros.


quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Manoel de Barros - O Livro das Ignoranças, Mundo Pequeno e Autorretrato




Dizeres Poéticos apresenta hoje um sarau virtual. No vídeo abaixo poesia na voz poeta, confira...


"O rio que fazia uma volta atrás da nossa casa

era a imagem de um vidro mole que fazia  uma

volta atrás de casa.

Passou um homem depois e disse: Essa volta



que o rio faz por trás de sua casa se chama

enseada.

Não era mais a imagem de uma cobra de vidro

que fazia uma volta atrás de casa.

Era uma enseada.

Acho que o nome empobreceu a imagem."


_._._.



"Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas

leituras não era a beleza das frases, mas a doença

delas.

Comuniquei ao padre Ezequiel, um meu preceptor, 

esse gosto esquisito.

Eu pensava que fosse um sujeito escaleno.

- Gostar da fazer defeitos na frase é muito saudável,

o padre me disse.

Ele fez um limpamento em meus receios.

O padre falou ainda: Manoel, isso não é doença,

pode muito que você carregue para o resto da vida

um certo gosto por nadas...

E se riu.

Você não é de bugre? - ele continuou.

Que sim, eu respondi.

Veja que bugre só pega por desvios, não anda  em

estradas

Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas

e os ariticuns maduros.

Há que apenas saber errar bem o seu idioma.

Esse padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de

agramática."


quarta-feira, 14 de outubro de 2015

A espantosa realidade das cousas - Alberto Caeiro

São Paulo - dezembro de 2014                                                                                                                                   Foto: Vilma Gama

"A espantosa realidade das cousas"





"A espantosa realidade das cousas

É a minha descoberta de todos os dias.

Cada cousa é o que é,

E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra,

E quanto isso me basta.



Basta existir para se ser completo.



Tenho escrito bastantes poemas.

Hei de escrever muitos. Naturalmente.



Cada poema meu diz isto,

E todos os meus poemas são diferentes,

Porque cada cousa que há é uma maneira de dizer isto.



Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra.

Não me ponho a pensar se ela sente.

Não me perco a chamar-lhe minha irmã.

Mas gosto dela por ela ser uma pedra.

Gosto dela porque ela não sente nada.

Gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo.



Outras vezes oiço passar o vento,

E acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter 

nascido.

Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto;

Mas acho que isto deve estar bem porque o penso sem 

estorvo,

Nem ideia de outras pessoas a ouvir-me pensar;

Porque o penso sem pensamentos

Porque o digo como as minhas palavras o dizem.



Uma vez chamaram-me poeta materialista,

E eu admirei-me, porque não julgava

Que se me pudesse chamar qualquer cousa.

Eu nem sequer sou poeta: vejo,

Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho;

O valor está ali, nos meus versos,

Tudo isso é absolutamente independente da minha 

vontade."



Alberto Caeiro