Memórias são todas aquelas coisas que se traduzem dentro
de nós através de emoções.
Da infância, lembro do delicioso sorvete, feito por uma vizinha, que era servido nas festas juninas feitas na rua de casa. Todos os vizinhos se reuniam, cada um preparava uma guloseima, havia fogueira e diversão.
Era inverno e fazia frio, mas adorava aquele sorvete e nunca mais experimentei nada igual.
"Remexo com um pedacinho de arame nas
minhas memórias fósseis.
Tem por lá um menino a brincar no terreiro:
entre conchas, osso de arara, pedaços de pote,
sabugos, asas de caçarolas etc.
E tem um carrinho de bruços no meio do
terreiro.
O menino cangava dois sapos e os botava a
puxar o carrinho.
Faz de conta que ele carregava areia e pedras
no seu caminhão.
O menino também puxava, nos becos de sua
aldeia, por um barbante sujo umas latas tristes.
Era sempre um barbante sujo.
Eram sempre umas latas tristes.
O menino é hoje um homem douto que trata
com física quântica.
Mas tem nostalgia das latas.
Tem saudades de puxar por um barbante sujo
uma latas tristes."
Manoel de Barros