domingo, 7 de dezembro de 2014


Gato olhando o horizonte - 30.11.14                                                                                                                        Foto: Vilma Gama
Olhar longe, enxergar as nossas memórias inventadas de infância, como que inspirados por Manoel de Barros. Lembro de, aos cinco anos, pular na piscina sem saber nadar e quase me afogar. Lembro do parque de diversões e do circo. Lembro das brincadeiras, na rua, com as crianças da vizinhança. Lembro dos aniversários e das festas. Lembro de ter vivido tudo tão rápido.

Mais um pouco das memórias inventadas contadas por Manoel de Barros, neste lindo poema, que está no livro “Retrato do artista quando coisa”.


A gente se negava corromper-se aos bons

costumes.

A gente examinava a racha dura das lagartixas

Só para brincar de ciência.

A gente grosava a peça dos morcegos com o

lado cego das facas

Só para vê-los chiar com mais entusiasmo.

Fazíamos meninagem com as priminhas à

sombra das bananeiras, debaixo dos laranjais

Só de homenagem ao nosso Casimiro de Abreu.

Não era mister de ser versado em Kant pra se

saber que os passarinhos da mesma plumagem

voam juntos.

Nem era preciso ser versado em Darwin pra se

saber que os carrapichos não pregam no vento.

Que, apois:

Sábio não é o homem que inventou a primeira

bomba atômica.

Sábio é o menino que inventou a primeira

lagartixa.”


Manoel de Barros 


Gato nos observando                                                                                                                                                 Foto: Vilma Gama
                                  



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