Espaço para reflexão, comunicação e ação. Textos poéticos e em prosa serão alvos principais. Música, cinema, teatro e jornalismo também terão seus lugares assegurados.
Como diz Manoel de Barros: "Pelos meus textos sou mudado mais do que pelo meu existir".
Último dia do ano de 2014. O verde emoldura o azul loteado por nuvens brancas sobre a praça do condomínio. Beleza natural, presente divino no quintal de casa. Gratidão. Eu li algo: "Assim é a vida... daqui a pouco a página vira, o cenário muda... novos ventos, nova brisa, novos ares, novos mares..."
Registro do céu no dia 28 de dezembro de 2014 visto da janela do quarto Foto: Vilma Gama
O azul tinge o espaço acima de nossas cabeças. Nuvens brancas formam-se e dissipam-se diante dos olhos. O verde também testemunha o dia do lado de fora da janela.
Registro do céu no dia 29 de dezembro de 2014 visto ao sair do prédio Foto: Vilma Gama
Os tons de azul, branco e verde mudam diante da luz solar. "Abra a porta e vá entrando Felicidade vai brilhar no mundo..." Tim Maia
Durante a semana que segue, o blog renderá homenagens ao azul e ao branco, às formas em que se apresentam diante de nós na imensidão do céu. Justas homenagens à beleza natural que nos faz companhia em nossos dias.
Foto: Vilma Gama
As imagens sugerem figuras, significados, sentimentos.
Continuemos a brincadeira de descobrir qual figura vemos nas nuvens apressadas que se formam e se dissipam rapidamente na imensidão azul.
Foto: Vilma Gama
Às vezes nuvens cinzas se apresentam carregadas de água que não se demora a delas se desprender e cair sobre a terra em forma de chuva.
Foi o que aconteceu no domingo (28 de dezembro). Fez sol a maior parte do dia.
Pela manhã, durante a despedida do querido amigo, o sol brilhava com todas as suas forças e nos aquecia com tamanha intensidade, como que a nos sugerir o abrigo das sombras das inúmeras árvores do lugar.
Talvez a beleza daquele dia ensolarado tivesse o propósito de tentar afugentar a tristeza da despedida.
À tarde surgiram discretas as nuvens cinzentas registradas nas fotos acima.
À noite fomos à Praça Pôr-do-Sol e o céu permaneceu inexplicavelmente azul, por bastante tempo, com suas numerosas nuvens brancas e com a lua emoldurada por uma névoa.
Pouco depois da meia-noite, minutos após entrarmos em casa, subitamente desprenderam-se de pesadas nuvens, que havia visto formarem-se, discretamente, à tarde, enormes quantidades de água. Chuva. Surpresa grande.
Ao deixarmos a praça, minutos antes, não havíamos visualizado tais nuvens carregadas, nem sentimos o vento que soprou e as trouxe de algum bairro próximo, a fim de precipitarem-se, sobre nossas casas e apartamentos, em forma de chuva.
Talvez o objetivo místico fosse limpar nosso ambiente astral daquele dia tão carregado de emoções e sentimentos, os quais não estávamos dando conta.
Ao molhar o solo a água diminuía a temperatura do ar e o calor subia novamente para perpetuar o ciclo da água.
Tristeza e saudade se desprendiam de nós como o calor em forma de vapor se desprendia do solo rumo às nuvens apressadas, que se formavam e se dissipavam pelo céu azul ou cinzento.
Foto: Vilma Gama
Magnos pensamentos passeiam pela imensidão azul ao sabor dos ventos como as nuvens que vemos em nossos dias.
O céu visto da janela do meu quarto Foto: Vilma Gama
A brincadeira de olhar para o céu, deitada na grama, e ver que imagens as nuvens formam.
Foto: Vilma Gama
As cores e as formas que o dia de hoje (28 de dezembro de 2014) nos trouxe de presente ficaram registradas em forma de fotografia. O que essas imagens inspiram?
Aniversário de 1 ano do Victor, com os padrinhos Narciza e Arnaldo (2004)
O mesmo poema para dois amigos
Já havia publicado aqui no blog, em 15 de dezembro, o "Poema de Natal" por ocasião da passagem do grande amigo Eurico Luís Costa Prado, ocorrida no dia 14 deste mês. Hoje o publico novamente, pois, neste poema Vinícius de Moraes fala, muito carinhosamente, da morte e da vida.
É uma singela homenagem a Arnaldo Peixe dos Santos, grande amigo e padrinho do meu filho, que deixou o planeta hoje.
"Poema de Natal"
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos -
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio
Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai -
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte -
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje à noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente."
Vinícius de Moraes
Batizado - Narciza, Vilma, Victor Luís e Arnaldo - 2004
Dizer que a música "You're so beautiful" é linda, vira pleonasmo. A emoção na voz e na expressão do cantor Joe Cocker ficam para a eternidade. Ver e rever. Interprete com seus próprios sentimentos. A música toca quem a ouve, e aí reside a beleza dela.
Natal em outras paisagens. No planeta há verão, inverno, sol, neve, altas e baixas temperaturas. Há a beleza da diversidade. Lugares insólitos. Somos uma minúscula parte. O Universo nos contém.
O cantor britânico Joe Cocker deixou o planeta ontem (22), aos 70 anos.
Queria dizer que um dos maiores sucessos dele, a música "With a little help from my friends", cantada por ele pela primeira vez em 1969, no festival de Woodstock, composta por John Lennon e Paul MacCartney, me faz lembrar o seriado "Anos incríveis", exibido pela TV Cultura entre os anos de 1994 e 1995. A voz rouca e a emoção com a qual interpretava as canções eram suas marcas registradas.
A homenagem do blog vai para Joe Cocker e para o seriado "Anos incríveis", que teve o privilégio de tê-lo na abertura. O seriado narrava a vida e os dilemas de um adolescente (Kevin Arnold) no final dos anos 60 e início dos 70.
A minha impressão era que a música enriquecia a ficção e nos trazia uma nostalgia de algo que não havíamos vivido. Muito bom.
Em 2012 Joe Cocker esteve no Brasil pela terceira e última vez, ele já havia tocado aqui em 1977 e em 1991, no Rock in Rio, no estádio do Maracanã.
Os personagens Paul e Kevin do seriado "Anos incríveis"
A poesia e a literatura são úteis para a vida. Sem elas, às vezes é difícil respirar e prosseguir. Faltou poesia. Saímos à sua procura e encontramos Fernando Pessoa. E eis o presente:
"Fecho os olhos, medito E, se invoco, revivo Um momento meu ser é infinito No inteiro eu entre mim e o que fui Depois estagno, e o meu ser morto e esquivo Rio fundo por mim flui."
O escritor Érico Lopes Veríssimo completaria 109 anos, ontem, 17 de dezembro, caso estivesse em nosso planeta. Nasceu em Cruz Alta - RS em 17.12.1905, e fez a passagem há 39 anos, em 28 de novembro de 1975. Em 1973 publicou sua autobiografia intitulada "Solo de clarineta". Faleceu subitamente e deixou inacabado o segundo volume de suas memórias, que se chamaria "A hora do sétimo anjo". "A vida vale a pena ser vivida apesar de todas suas dificuldades, tristezas e momentos de dor e angústia.
O mais importante que existe sobre a face da terra é a
pessoa humana. E surpreender
o homem no ato de viver é
uma das coisas mais fantásticas que existe.”
Érico Veríssimo "Em geral quando termino um livro encontro-me numa confusão de sentimentos, um misto de alegria, alívio e vaga tristeza. Relendo a obra mais tarde, quase sempre penso 'Não era bem isto o que queria dizer'."
(O escritor diante do espelho) Érico Veríssimo
"Estive pensando na fúria cega com que os homens se atiram à caça do dinheiro. É essa a causa principal dos dramas, das injustiças, da incompreensão da nossa época. Eles esquecem o que têm de mais humano e sacrificam o que a vida lhes oferece de melhor: as relações de criatura para criatura. De que serve construir arranha-céus se não há mais almas humanas para morar neles. (...) É indispensável trabalhar, pois um mundo de criaturas passivas seria também triste e sem beleza. Precisamos, entretanto, dar um sentido humano às nossas construções. E quando o amor ao dinheiro, ao sucesso nos estiver deixando cegos, saibamos fazer pausas para olhar os lírios do campo e as aves do céu." (Olhai os Lírios do Campo) Érico Veríssimo
"Eu queria fazer um livro não da vida como ela é, mas como
eu queria que ela fosse. Um livro para a gente pegar e ler
quando quisesse esquecer a vida real... Eu entendo a Arte
como sendo uma errata da vida. A página tal, onde se lê
isto, leia-se aquilo..."
Érico Veríssimo em "Um lugar ao sol".
"O espírito da gentileza podia salvar o mundo. O que nos
falta é isso: espírito de gentileza. Boas maneiras de homem
para homem, de povo para povo."
Érico Veríssimo
Carlos Drummond de Andrade homenageou o amigo ao publicar o seguinte poema:
Carlos Drummond de Andrade
"A falta de Érico Veríssimo"
"Falta alguma coisa no Brasil
depois da noite de sexta-feira
Falta aquele homem no escritório
a tirar da máquina elétrica
o destino dos seres,
a explicação antiga da terra.
Falta uma tristeza de menino bom
caminhando entre adultos
na esperança da justiça
que tarda - como tarda!
a clarear o mundo.
Falta um boné,
aquele jeito manso,
aquela ternura contida, óleo a derramar-se lentamente.